domingo, 11 de setembro de 2011

O OUTRO 11 DE SETEMBRO


O presidente Salvador Allende foi a vítima mais ilustre do 11 de Setembro de 1973

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As capas dos jornais e revistas portuguesas (todos eles) prestam, hoje, homenagem às vítimas do 11 de Setembro de 2001, através de fotografias, de testemunhos, de artigos e de crónicas, mais ou menos longos, sobre esse drama do nosso tempo. Confesso que o que, simultaneamente, me fascina e entristece nesta atitude, é o facto da nossa imprensa ter completamente esquecido o outro 11 de Setembro, o do ano de 1973, que provocou 4 000 mortos e desaparecidos no Chile, muitas milhares de prisões por simples delito de opinião, torturas, degredos voluntários ou impostos e, finalmente, a instauração da ditadura (por cerca de 20 anos) do famigerado general Augusto Pinochet, uma das criaturas mais sinistras de todo o século XX.
Será pelo facto de, por trás desse sangrento golpe de estado militar que atirou abaixo um regime democraticamente eleito, terem estado envolvidos conhecidos grupos financeiros e industriais dos Estados Unidos e a CIA, que nunca teriam agido a favor dos inimigos de Allende e da ditadura sem o aval do governo de Washington ? –Muito sinceramente, penso que sim ! A não ser que o facto de terem na carteira um passaporte norte-americano confira às vítimas das torres gémeas um suplemento de humanidade a que os mártires sul-americanos não têm direito… Tenho uma grande compaixão pelas vítimas das torres gémeas de Nova Iorque; mas não tenho menos dó das pessoas que morreram em Santiago ou noutras cidades do Chile no tal outro 11 de Setembro do qual, hoje, ninguém vai falar. Como não tenho menos pena das muitas dezenas de milhar de civis massacrados no Iraque, país que os EUA designaram, precipitadamente, como o instigador moral do crime que hoje se comemora. País que, após vários anos de guerra inglória, os exércitos dos ‘states’ se preparam para abandonar, depois de o terem arrasado, não deixando pedra sobre pedra. Afinal, a maior democracia do mundo também tem telhados de vidro. E, se calhar, a pompa e circunstância com que se revestem as cerimónias do 10º aniversário da tragédia do 11 de Setembro até servem para entreter o pagode e fazer esquecer aos cidadãos norte-americanos comuns (e não só) alguns dos seus pecados escondidos…


11 de Setembro de 1973 : soldados do general traidor Augusto Pinochet queimam 'livros suspeitos' nas ruas de Santiago do Chile


Santiago : nestas placas comemorativas foram gravados os nomes dos chilenos assassinados pela ditadura de Pinochet entre 1973 e 1990. Uma parte substancial destes homens e mulheres eram militantes políticos de esquerda, que foram executados pelos esbirros da ditadura

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