segunda-feira, 26 de julho de 2010

A PROPÓSITO DE «2010, ANO DE NELSON MANDELA»


Creio que foi a O.N.U. que decretou, este ano de 2010 -em que se comemora o 20º aniversário da libertação do líder histórico da A.N.C.- Ano Internacional de Nelson Mandela. Ninguém pode estar mais de acordo com essa decisão do que o escrevinhador destas linhas ; que, na década de 60 do século XX, participou (em França) em várias manifestações contra o ‘apartheid’ e pela libertação do supracitado, que os tribunais racistas da África do Sul haviam acusado da prática de terrorismo (aliás como se fez em Portugal com as figuras de proa dos movimentos independentistas das colónias) e condenado a uma terrível pena de prisão perpétua. Isto dito, achei escandaloso que certos coitadinhos (alguns deles personagens públicas) aparecessem agora na televisão, na rádio e nos jornais a tecer lisonjas a uma figura que «padeceu 27 anos de cativeiro, nas masmorras de um regime iníquio e odioso». Se é só por isso, façam o favor de não esquecer o José Magro e o Francisco Miguel, do P.C.P., que, por delito de opinião, passaram, cada um deles, mais de 20 anos nas enxovias da P.I.D.E. (Caxias, Peniche, Tarrafal), onde foram sujeitos aos vexames e às torturas consentidas pelo ditador de Santa Comba. Que, também ele, presidia a um regime «iníquio e odioso». E só refiro estes dois grandes portugueses, por eles terem ultrapassado o limite dos mais de 20 anos de cadeia. Porque seres humanos com penas aproximando-se das duas décadas de encarceramento houve, infelizmente, muitos mais. Todos eles perseguidos por delito de opinião, repito. Acontece é que a maior parte dos tais coitadinhos que eu vi, ouvi ou li a esforçar-se por verter uma lagrimasita de crocodilo em relação a Mandela tem a piedade selectiva e, acho eu, nunca abrirá a boca para que dela saia uma palavra (uma só que seja) sobre o martírio de alguns dos seus compatriotas que -na hora da verdade- tiveram a coragem, a hombriedade e a insigne honra de dizer não a Salazar e aos seus esbirros

«UNS DIZEM A SUA HISTÓRIA
OUTROS FAZEM HISTÓRIA
E HÃO-DE VIVER NO EXEMPLO E NA MEMÓRIA»
(José Magro)


José Magro, natural de Lisboa, passou 21 anos nas terríveis cadeias de Salazar. Quem tiver dúvidas sobre as condições desumanas impostas aos prisioneiros políticos portugueses, faça o favor de visitar a fortaleza de Peniche e de se inteirar, 'de visu', sobre essa triste realidade. A visita é de borla e, naturalmente, muito instrutiva...


Francisco Miguel, alentejano de Baleizão, também ultrapassou os 20 anos de detenção. Salazar e a P.I.D.E. tiveram o descaro e a desumanidade de o manter 6 meses no campo de concentração do Tarrafal, depois do fecho oficial do dito, na esperança de vê-lo morrer ali...

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