segunda-feira, 12 de julho de 2010

OS FILMES QUE EU VI (OU REVI) ESTA SEMANA :


«ACONTECEU NA ARGENTINA» (dvd)

Dramática evocação dos tempos da ditadura militar na Argentina (a dos anos 70), quando homens, mulheres e crianças eram levados arbitrariamente de suas casas pelos torcionários da polícia política e da própria instituição militar e submetidos a torturas sem nome; antes de desaparecerem -muitas vezes para sempre- numa fossa comum clandestina ou nas profundezas do oceano, onde os seus corpos martirizados eram largados pelos helicópteros das forças armadas. Estupendas interpretações de Antonio Banderas (no papel de Carlos Rueda, um director de teatro de Buenos Aires) e de Emma Thompson (que aqui encarna a figura de uma das muitas vítimas do regime do abjecto general Videla e dos seus sinistros comparsas) e, afinal, de todos os outros actores contratados para ressuscitar -durante 110 minutos- esta dolorosa época da história da Argentina do século XX. Trata-se de uma co-produção anglo-hispano-argentina, que é absolutamente necessário ver, para poder compreender todo o horror gerado pelos abusos de poder de uma corja que, em nome do nacionalismo mais exacerbado, foi capaz de cometer os crimes mais horrorosos contra o seu próprio povo. Para este filme de Christopher Hampton, realizado em 2003, aqui ficam cinco merecidíssimas estrelas.


«CORAGEM DEBAIXO DE FOGO» (dvd)

Um coronel do exército dos Estados Unidos com uma experiência (traumatizante) adquirida na frente da primeira guerra do Golfo, é incumbido de fazer um relatório sobre o comportamento de uma mulher (oficial-piloto de helicóperos), caída em combate no Iraque e indigitada para receber a Medalha de Honra do Congresso, a mais alta distinção atribuída a um militar dos E.U.A.. Tecnicamente perfeito, com actores de primeira grandeza (Denzel Washington, Meg Ryan, Matt Damon, etc) a terem um desempenho sem mácula, este filme de Edward Zwick deixou-me, no entanto, a estranha sensação de que, para além de contar uma história comovente, também promover as instituições políticas e militares comprometidas nas horrorosas guerras que os norte-americanos vão fomentando longe, muito longe das suas fronteiras. Isto sob o já estafado pretexto de ali defenderem a América e os seus ideais de liberdade do terrorismo internacional…


«O HOMEM QUE NÃO QUERIA MATAR» (dvd)

Esta fita, que se apresenta sob o título original de «From Hell to Texas» é, sem dúvida, um dos mais belos westerns de fins da década de 50 e, também, um dos melhores filmes de Henry Hathaway. Uma excelente cópia desta película foi lançada há poucos dias no mercado francês dos DVD’s e foi, graças a ela, que eu pude agora rever -em condições de excepcional qualidade- uma obra sem verdadeiras estrelas, mas, ainda assim, com nomes sonantes no cartaz. Refiro-me, obviamente, a Don Murray (que aqui interpreta o papel de Tod Lohman, o tal homem que não queria matar), a Diane Varsi (mais bela do que nunca), a Dennis Hopper (que era, em 1958, um novato nestas andanças) e ao veterano Chill Wills. É o western perfeito de Hathaway e o filme que eu recomendaria àquelas pessoas que gostariam de lançar-se na grande aventura de descobrir um género sem expressão nos nossos dias, mas que já foi o cinema mais popular e mais desejado produzido pela fábrica de sonhos hollywoodesca. «O Homem que não Queria Matar» está integrado numa série intitulada ‘Western Légende’, comercializada pela firma Sidonis Production; que, infelizmente, só propõe à sua clientela a versão original e a francesa, dobrada ou legendada.


«UN TAXI MAUVE» * (dvd)

Bonito filme de Yves Boisset, datado de 1977, que eu não via há mais de uma década. A acção decorre na Irlanda (daí a película fazer lembrar, por momentos, uma obra conhecida de David Lean) e conta-nos uma história de amizade entre Philippe (Philippe Noiret), um jornalista francês que ali quer esquecer um drama pessoal, e Jerry, um jovem americano (Edward Albert Jr), filho de gente rica, que se autoexilara no país de origem da sua família para fazer esquecer a seus pais um erro de juventude. Essa amizade, feita de respeito e de silêncio, é perturbada pela chegada imprevista da fascinante Sharon (Charlotte Rampling), irmã de Jerry, que enceta um romance com Philippe. Película romanesca, sensível e com um elenco de luxo, que conta, para além dos actores já citados, com os nomes de Peter Ustinov (que desempenha um papelão), de Fred Astaire, de Agostina Belli, etc. O DVD, adquirido em França, é de boa qualidade e oferece um visionamento perfeito.


«O GENERAL DELLA ROVERE» (dvd)

Esta produção franco-italiana -com realização de Roberto Rossellini- foi galardoada, em 1959, com o prestigioso ‘Leão de Ouro’ do Festival Internacional de Veneza. Merecidamente ! O filme conta-nos a história de um burlão (Vittorio de Sica) manipulado pelos alemães -que, em 1944, ocupam a Itália- com o intuito de infiltrar e de neutralizar a resistência milanesa. Acontece, porém, que, após a morte sob a tortura de um patriota, o falso general Della Rovere (identidade assumida pelo vigarista) compreende o seu erro, recusa colaborar com o inimigo e passa a assumir uma atitude digna, acabando por morrer heroicamente diante de um pelotão de execução. Este filme faz parte, sem dúvida, do melhor cinema que jamais se fez em Itália. E o seu visionamento é obrigatório para todos aqueles que apreciam o cinema de há 40/50 anos, tão esquecido por quem o deveria divulgar e promover : os canais da televisão que temos. Já que é utópico pensar que as salas de cinema o incluam num igualmente hipotético ciclo de obras-primas da chamada Sétima Arte, pois esse privilégio é reservado aos habitantes das grandes urbes, onde existem cinematecas e cine-clubes e não aos desprezados cinéfilos da província.


«ACORDAR EM RENO» (dvd)

Comédia leve, romântica e (por vezes) brejeira, protagonizada por alguns nomes sonantes da Hollywood de inícios desta década, como, por exemplo, Patrick Swayze ou Clarlize Theron. A acção decorre essencialmente em Reno, cidade de diversões do estado do Nevada, onde dois casais -até então amigos- vão divertir-se e descobrir, ao mesmo tempo, que o marido de uma delas engravidara a mulher do outro. Este filme nada trouxe de excepcional à comédia cinematográfica contemporânea e foi rodado (por Jordan Brady, em 2002) a pensar num público que, a troco do preço do bilhete, se estima plenamente recompensado se receber em troca alguns instantes de riso. Ponto final.

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