sábado, 17 de julho de 2010
A ESSÊNCIA DOS NOSSOS POETAS
CONTO
Saiu da Samardã certo pedreiro,
faminto de ouro, em busca da fortuna.
Embarca, vai-se ao Rio, deita às Minas
e lida e fossa e sua, arranca à Terra
o luzente metal, que o vulgo adora.
Vem rico à Samardã: vinhas, searas,
casas, móveis, baixela compra fofo;
brocados veste, vai-se nos domingos
espanejar à igreja, acompanhado
de lacaios esbeltos. Vem o Cura
saudá-lo coa água benta; os mais graúdos
do lugarejo a visitá-lo acorrem;
para ele os rapapés, as barretadas
se apostavam de longe, a qual mais prestes.
Falaram-lhe os vizinhos, e a gazeta
na célebre Paris, cidade guapa,
onde todo o estrangeiro, nobre ou rico,
vai fazer seu papel. Ei-lo azoado,
que deixa a Samardã, que se apresenta
na capital francesa; roda em coche,
alardeia librés, passeia Louvres,
Versalhes, Trianões. Volta enfadado
à sua Samardã. – «Gabam tal gente
de polida?! Oh, mal haja quem tal disse!
Corri casas, palácios, corri ruas;
não vi um só, nem grande, nem plebeu,
que ao passar me corteje co chapéu!»
*** Francisco Manuel do Nascimento,
aliás Filinto Elísio ***
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário