domingo, 7 de março de 2010

«MÃE PRETA»


Nos meus tempos de menino, os zelosos funcionários dos serviços da censura salazarenta proibiram a letra de uma canção brasileira -da autoria de Piratini e Caco Velho- com o título em epígrafe; canção que denunciava a mísera condição dos negros nos tempos da servidão. Mas como a melodia era, deveras, bonita e caíra no ouvido dos auditores da telefonia (nesses tempos não havia por cá televisão), o nosso querido David Mourão-Ferreira (romancista e poeta) fez os famosos versos do «Barco Negro», que substituiu, desde logo, a letra do seu colega brasileiro. Versos que Amália Rodrigues celebrizou, cantando-os nos quatro cantos do Mundo. Mas a verdade é que, no que me diz respeito, quando ouvia a tal música eu pensava, inevitavelmente, na tal «mãe preta (que) embalava o filho branco do sinhô»... Para lembrança dos mais velhos dos meus hipotéticos leitores aqui fica a letra original de «Mãe Preta» :

Pele encarquilhada carapinha branca
Gandôla de renda caindo na anca
Embalando o berço do filho do sinhô
Que há pouco tempo a sinhá ganhou

Era assim que mãe preta fazia
Criava todo o branco com muita alegria
Porém lá na sanzala seu pretinho apanhava
Mãe preta mais uma lágrima enxugava

Mãe preta, mãe preta

Enquanto a chibata batia em seu amor
Mãe preta embalava o filho branco do sinhô


A Lei Áurea (porventura a mais importante de toda a História do Brasil imperial) foi sancionada e assinada pela regente D. Isabel. Apresentada à Câmara -em 13 de Maio de 1888- pelo ministro Rodrigo Augusto da Silva, a dita lei declarou definitivamente extinta a escravidão no Brasil

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