terça-feira, 9 de março de 2010
OS FILMES DA MINHA VIDA (11)
«MOGAMBO»
FICHA TÉCNICA
Título original : «Mogambo»
Origem : E. U. A.
Género : Aventuras
Realização : John Ford
Ano de estreia : 1953
Guião : John Lee Mahin
Fotografia (c) : Robert Surtees e Frederick A. Young
Música : tradicional africana
Montagem : Frank Clarke
Produção : Sam Zimbalist
Distribuição : Metro Goldwyn Mayer
Duração : 116 minutos
FICHA ARTÍSTICA
Clark Gable ------------------------ Victor Marswell
Ava Gardner ----------------------- Eloise Kelly
Grace Kelly ------------------------ Linda Nordley
Donald Sinden --------------------- Donald Nordley
Philip Stainton -------------------- John Brown Pryce
Erik Pohlmann --------------------- Leon Boltchak
Laurence Naismith ---------------- o patrão do barco
Dennis O’Dea ---------------------- irmão Josef
Abraham Sofaer ------------------ Paulo
Asa Etula -------------------------- uma moça indígena
SINOPSE
Victor Marswell vive numa recôndita região da África equatorial, onde se dedica –com a ajuda de dois colaboradores brancos e de alguns indígenas- à captura de animais selvagens e à organização de safaris.
A chegada inopinada (e quase simultânea) de duas belas mulheres à casa de mato de Marswell vai perturbar a paz relativa de um lugar ocupado, até então, por um trio de empedernidos solteirões e por alguns animais insólitos, tais como a jibóia Joe.
Essas mulheres –Elodie Kelly, uma aventureira, e Linda Nordley, a esposa de um antropólogo cliente do caçador de feras- vão travar, entre elas, uma luta sem tréguas para conquistar o coração de Maswell. Este, que até nutre uma sincera simpatia pela descontraída e emancipada Elodie, acaba, no entanto, por sucumbir ao charme discreto da companheira de Donald Nordley, um homem distraído pelo estudo comportamental dos gorilas e pelos resultados que ele espera obter da expedição organizada pelo seu insuspeito rival.
Mas Elodie, uma belíssima morena, não se dá por vencida na rixa sentimental em que se vê envolvida. E, quando Linda e o homem que ambas desejam ardentemente estão prestes a cometer o irreparável, é ela que graças à sua inteligência e à sua generosidade, vai opor-se a uma relação sem hipóteses de durabilidade e salvá-los, ‘in extremis’, de uma situação comprometedora.
É claro que, perante tal situação, Victor Marswell deve estender a mão à palmatória e reconhecer em Elodie Kelly –que é, afinal, um ser mais frágil do que aparenta, marcado pela perda de um primeiro amor- a mulher com a qual ele deseja partilhar o resto da sua vida.
O MEU COMENTÁRIO
Em 1932, a M. G. M. obteve um enorme sucesso com a estreia de «Red Dust», um filme de aventuras realizado por Victor Fleming, cuja acção tinha por quadro as exuberantes paisagens da península indochinesa. O êxito que acompanhou a exploração dessa fita ficou a dever-se, por um lado, ao facto da dita corresponder às exigências do público em matéria de exotismo e, por outro lado, por contar com a participação de um trio de vedetas muito acarinhadas pelas plateias do tempo : Clark Gable, Jean Harlow e Mary Windsor.
Baseando-se nessa experiência bastante positiva, sobretudo em termos financeiros, a ‘Companhia do Leão que Ruge’ encarregou Sam Zimbalist de produzir -20 anos mais tarde- uma fita colorida inspirada na obra citada. A realização do novo filme foi entregue a John Ford e o principal papel masculino foi, de novo, confiado a Gable, actor que, apesar de já ter ultrapassado a casa fatídica dos 50 anos de idade, ainda mantinha intacta a sua reputação de galã irresistível. E, para desempenho dos papéis outrora atribuídos (em «Red Dust») a Jean Harlow e a Mary Windsor foram escolhidas duas magníficas figuras de mulher : Ava Gardner (alcunhada, a justo título, «o mais belo animal do mundo») e Grace Kelly.
É evidente que «Mogambo» é uma obra menor da filmografia de John Ford. Refira-se, a título de curiosidade, que o próprio cineasta menosprezou a tal ponto este seu filme de aventuras, que chegou a afirmar publicamente ter tomado a responsabilidade de o realizar só porque desejava conhecer a região de África (Quénia e Tanganica) onde iria decorrer a rodagem de exteriores da fita. E mais, o seu incompreensível desdém por este filme fê-lo confessar à imprensa nunca ter chegado a visionar «Mogambo», depois da sua montagem definitiva.
Apesar do desprezo manifestado pelo realizador por este seu trabalho, a verdade é que «Mogambo» fascinou a generalidade do público alvo. O feitiço da África equatorial agiu positivamente, mais uma vez, junto de espectadores ávidos de imagens de uma terra longínqua, habitada por povos tão diferentes daqueles que viviam nos ‘States’ ou na Europa; como o eram (quase) as estranhas criaturas desembarcadas, no seu quotidiano de cinéfilos, das naves intersiderais dos filmes de ficção-científica.
Valorizadas pelas paisagens sumptuosas do continente negro (colhidas num colorido de sonho pelas câmaras de Robert Surtees e de Frederick Young), as aventuras do caçador Vic Marswell foram um bom suporte para a trama amorosa da fita, animada, como já se referiu, pela presença de duas das mais belas e cobiçadas mulheres de Hollywood.
Pode-se afirmar, pois, que «Mogambo» se apresentava, em 1953, como uma receita antiga temperada ao gosto do tempo, com ingredientes frescos chamados Technicolor, Ava e Grace. Nessas condições, não é de admirar que a M. G. M. tenha alcançado mais um estrondoso sucesso comercial com esta fita mal-amada de John Ford; para o qual a sua realização parece não ter constituído mais do que um capricho, do que um um devaneio. Enfim, de um pretexto para Ford passear fora dos limites áridos de Monument Valley e do país Navajo, que ele tanto amou.
(M.M.S.)
Ava Gardner tal como apareceu numa cena de «Mogambo». A sua provocante beleza e um inegável talento são algumas das mais valias oferecidas ao público por este filme de aventuras exóticas menosprezado por John Ford, o seu realizador
Grace Kelly -a prometida estrela hitchcokiana e futura princesa do Mónaco- estava, também ela, no auge da sua beleza física, quando, em 1953, aceitou representar o papel da volúvel e calculista Linda Nordley nesta fita da M. G. M.
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