sexta-feira, 29 de setembro de 2017

ONTEM VI «ONDE MORRE O VENTO». GOSTEI, MAS...


Ontem à noite, deu-me para ver um filme de 1954, que já não visionava há muitos anos.  Um melodrama realizado por Allan Dwan, em 1954, e cuja acção decorre na Alta Califórnia, quando esse território do Oeste americano ainda fazia parte da geografia do México. Antes, pois, dessa rica região lhe ter sido roubada pelos EUA, na sequência da guerra americano-mexicana de 1848; que foi planeada nos salões da Casa Branca para isso mesmo. Para materializar a ideia do 'Destino Manifesto', que faria estender o território das antigas treze colónias (da coroa britânica), das margens do Atlântico até às águas do longínquo oceano Pacífico. Enfim, mas isso é outra história, que pouco terá a ver com aquilo que justifica o alinhavar destas linhas. A película em questão -com produção de Benedict Bogeaus e marca da distribuidora RKO- recebeu, no nosso país, o poético título de «ONDE MORRE O VENTO» (t.o. : «Passion»), embora eu, até hoje, ainda não tenha percebido o porquê dessa escolha. Mas isso também é secundário, sem grande interesse... O importante é saber que esta fita se tornou um clássico do cinema hollywoodiano, não tanto pela excelência da história contada (que é a banalíssima narrativa de uma vingança, que não foi levada até às suas últimas consequências), nem, tampouco, pelas interpretações 'inesquecíveis' dos actores principais, que foram : Cornel Wilde, Yvonne de Carlo (mais bela do que nunca), Raymond Burr, Lon Chaney Jr., Rodolfo Acosta, John Qualen e Anthony Caruso. Mas, estou convencido que o seu classissismo se deve ao facto de ser um filme pouco convencional, que fixou a acção numa terra e num tempo algo exóticos e que soube criar uma atmosfera menos em conformidade com o modelo habitual ao carimbado com a marca 'made in Hollywood'. Gostei ! Mas confesso que me senti incomodado com anacronismos que eu (cada vez mais chato) detectei ao longo do filme. E desde as primeiras imagens. Que mostram o herói da fita à frente de uma manada de bovinos que não deveriam encontrar-se ali no tempo da Califórnia ainda mexicana. Esse gado é, com efeito, constituído por animais de raça 'Hereford', de origem inglesa, que (na primeira metade do século XIX) ainda não haviam sido introduzidos naquela região. Outro detalhe que me incomodou foi ver nas mãos de algumas das personagens da história (nomeadamente nas mãos da polícia que persegue Juan Oberon) armas que só seriam fabricadas em... 1858, como os reconhecíveis revólveres Remington 'New Model Army' de calibre 44. E que, de 1861 até 1865 tiveram um uso exclusivamente militar, nas fileiras do exército federal e nas do exército da Confederação dos Estados do Sul. Pena que a cronologia das coisas não tenha sido respeitada... .Mas enfim, reconheço também, e facilmente, que coisas destas só interessam aos coca-bichinhos. Raios partem os velhos !

Na fotografia acima anexada, pode ver-se (parcialmente) à cinta do actor Anthony Caruso -que neste filme encarna a personagem do sargento Muñoz- a coronha e parte do mecanismo de um revólver Remington. Uma marca rival da fábrica de armas de Samuel Colt, que, com certos modelos, chegou a suplantá-la comercialmente.

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