quarta-feira, 30 de agosto de 2017

COISAS DA NOSSA HISTÓRIA : A INFANTA LEONOR, FILHA DO 'ELOQUENTE'


Filha de el-rei D. Duarte -príncipe da 'Ínclita Geração'(*) e um dos soberanos europeus mais cultos do seu tempo- a infanta D. Leonor (1434-1467), era natural de Torres Vedras, onde nasceu num dia 18 de Setembro. Em 1451 contraiu matrimónio com Frederico III, da Alemanha. E, com ele, recebeu das mãos do papa Nicolau V (em cerimónia solene ocorrida no dia 16 de Março de 1452 na basílica de São Pedro) a coroa do Sacro Império Romano-Germânico. Esse rito foi, aliás, o último ali celebrado para distinguir um casal imperial alemão. Mas não se pense que a união da princesa portuguesa honrou mais especialmente a corte lusa do que a dinastia germânica. Pois Frederico sentia verdadeira admiração pela Casa de Avis, que começava a retirar os primeiros frutos da grande aventura dos Descobrimentos e lucrava com, por exemplo, as exportações -para toda a Europa- do açúcar produzido na ilha da Madeira e prestigiara-se com as vitórias militares alcançadas em Ceuta e noutras praças marroquinas. Nessas condições, e já com ligações familiares à coroa portuguesa, Frederico III manteve contactos privilegiados com os nossos monarcas D. João II e D. Manuel I; sendo que este último, o 'Venturoso', era considerado um dos soberanos mais ricos e poderosos da Cristandade. Para finalizar estas linhas, evocando (sucintamente) a infanta D. Leonor (cuja mãe respondia pelo mesmo nome e era de origem aragonesa), quero lembrar que, dela descende, toda a linhagem da Casa de Áustria; e que essa infanta de Portugal foi mãe do imperador Maximiliano I e bisavó de Carlos V, o tal soberano sobre cujo império «o sol nunca se punha».

O retrato de D. Leonor que ilustra este texto, é obra do pintor alemão Hans Burgkmair, o Velho.
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'Ínclita Geração' foi o epíteto dado (por Camões) aos filhos de D. João I -fundador da dinastia de Avis- e de D. Filipa de Lencastre. Foram, essas ilustres figuras da História de Portugal, as seguintes :

D. Duarte, que herdou a coroa de seu pai e a quem (por ser letrado, culto e avisado) foi dado o cognome de «O Eloquente»;
D. Pedro, duque de Coimbra, chamado «O Infante das Sete Partidas». Era muito viajado e muito sabedor. Foi regente do Reino;
D. Henrique, duque de Viseu. Grão-mestre da Ordem de Cristo, foi o impulsionador das viagens além-mar. Recebeu o apelido de «O Navegador;
D. Isabel, duquesa de Borgonha. Foi em sua honra que se instituiu a Ordem do Tosão de Ouro. Foi mãe do famoso Carlos, «O Temerário», figura grada da História da Europa;
D. João, mestre da Ordem de Santiago e condestável dos exércitos de Portugal (sucessor de D. Nuno Álvares Pereira). Foi avô materno de Isabel, a Católica, e de D. Manuel I;
D. Fernando, «O Infante Santo». Morreu no cativeiro em Fez, depois de ter sido martirizado pelos mouros; pelo facto de seus irmãos terem recusado devolver-lhes Ceuta, única 'moeda' de troca exigida.

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«Mas pera defensão dos Lusitanos,
Deixou quem o levou, quem governasse
E aumentasse a terra mais que dantes,
Ínclita geração, altos infantes»

(Luís Vaz de Camões, in «Os Lusíadas», Canto IV, estância 50).

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