sábado, 22 de outubro de 2011

MUAMMAR KADHAFI : SOL E SOMBRA


Em 1969 (tinha eu uns 24 de idade...), um jovem oficial do exército líbio reuniu um punhado de companheiros de armas para depor o rei Idriss e acabar com o regime feudal vigente no seu país. Saudado pelos democratas do mundo inteiro, esse jovem oficial -de nome Muammar Kadhafi- tornou-se, então, uma espécie de herói universal e uma referência para todos aqueles (Portugueses incluídos) que ambicionavam ver os seus países libertados dos déspotas que os oprimiam...


O tempo passou, e o herói líbio assentou de estaca no país que conquistara, acaparando o poder à custa da eliminação física dos seus contraditores e da 'razão' que lhe conferiam os milhões proporcionados pelo negócio do petróleo. Dinheiro que deveria ter servido para o desenvolvimento do seu país e para asegurar o bem-estar social do seu povo; mas que ele acabou por utilizar em seu próprio proveito (diz-se, agora, que a fortuna acumulada pela família Kadhafi, dispersa em bancos estrangeiros, ascende a muitos milhares de milhões de euros) e para cimentar os alicerces do seu regime ditatorial. Que, entretanto, se tornara um fardo difícil de suportar para muitos dos compatriotas do carismático líder norte-africano. A arrogância e os caprichos do antigo herói da revolução líbia levou-o, depois, a apadrinhar actos de cariz terrorista, que vitimaram centenas de cidadãos inocentes, como, por exemplo, os passageiros do avião da Pan Am que se despenhou em Lockerbie. Banido temporariamente da cena internacional pela comunidade dos países ditos democráticos, Kadhafi (cujo regime duraria 42 longos anos !) e a Líbia acabaram por voltar ao concerto das nações, graças à influência exercida pelas potências que precisavam do seu petróleo. Potências das quais Kadhafi foi hóspede de honra até aqui há alguns meses atrás. Confesso ainda não perceber muito bem a reviravolta que levou os Sarkozys, os Berlusconis, os Obamas e 'tutti quanti' a mudar radicalmente de posição a respeito do ditador e a lançar os aviões da NATO contra alvos na Líbia, de modo a favorecer o avanço vitorioso dos rebeldes. Gente que, na realidade, ninguém sabe quem é e que, neste momento, ninguém sabe que espécie de regime vai implantar na Líbia, aqui à nossa porta...


Finalmente, Muammar Kadhafi, o herói puro da revolução de 1969, acabou por comportar-se como alguns dos outros ditadores árabes recentemente depostos (Ben Ali e Hosni Mubarak), ao confundir os dinheiros do estado com os da sua própria algibeira, expoliando um povo sedento de bem-estar e de justiça. Kadhafi, acabou mal (inglória e barbaramente lynchado pelos rebeldes que haviam prometido remetê-lo aos tribunais), quando fugia da sua cidade natal para ganhar um refúgio que, para ele, já não existia. Balanço da sua passagem por este mundo : globalmente negativo !

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