quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

'MEILLEURS VOEUX'

VIVE LE RÉVEILLON !!!


Comer...


...e beber sem cometer excessos. Eis o segredo de um fim do ano bem passado.

O IDEAL DE WHITMAN


Para Walt Whitman -um dos mais importantes poetas norte-americanos do século XIX- a vida ideal era isto : «escrever um pouco, trabalhar um pouco, deambular um pouco». Na sua primeira e mais conhecida obra, «Folhas de Erva», Whitman exaltou a sensualidade e a liberdade, numa linguagem pouco convencional e directa, que, para certos intelectuais do seu tempo, foi considerada crua e ultrajante.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

TURQUESA


Polida, bonita, semi-preciosa, esta estupenda turquesa é apenas (e cientificamente só isso) um pedaço de fosfato de alumínio...

OS FILMES DA MINHA VIDA (8)


«A HISTÓRIA DE GLENN MILLER»

FICHA TÉCNICA
Título original : «The Glenn Miller Story»
Origem : E. U. A.
Género : Biografia/Musical
Realização : Anthony Mann
Ano de estreia : 1954
Guião : Valentine Davies e Oscar Brodney
Fotografia (c) : William Daniels
Música : Glenn Miller e Henry Mancini
Montagem : Russell Schoengarth
Produção : Aaron Rosenberg
Distribuição : Universal International
Duração : 116 minutos

FICHA ARTÍSTICA
James Stewart ……………………………....… Glenn Miller
June Allyson …………………………………….…. Helen Burger Miller
Charles Drake ………………………………….…. Don Haynes
Henry ‘Harry’ Morgan ……………………. Chummy
George Tobias ……………………………………. Si Schreibman
Barton McLane …………………..………………. general Arnold
Sig Rumann …………….…………………………….. Kranz
Irving Bacon ……………….….…………. …. Sr. Miller
Kathleen Lockhart ………………………... Sra. Miller
James Bell ……………………………….……..…… Burger
Dayton Lummis………………………..……………..coronel Spaulding
Marion Ross……………………..……………………..Polly Haynes

SINOPSE
Por volta de 1925, em San Francisco, o jovem trombonetista Glenn Miller aspira encontrar um emprego estável no seio de uma das diferentes orquestras que animam as noites dessa grande urbe californiana. A oportunidade acaba por surgir, quando Bem Pollack o integra no seu já afamado conjunto musical. Esse emprego espevita de tal modo o orgulho de Glenn, que, pela primeira vez na vida, este se sente com coragem para declarar o seu amor a Helen, uma ex-colega da universidade.
No decorrer de uma tournée a Nova Iorque com a orquestra de Pollack, o jovem músico casa com Helen, acabando por comunicar à jovem esposa o seu entusiasmo pelo jazz. E, quando esse entusiasmo se transmuta em paixão, é a sua companheira quem incita o trombonetista a prosseguir os seus estudos musicais e o ajuda a realizar o sonho de formar a sua própria orquestra.
A estreia da ‘Glenn Miller Orchestra’ não se faz, porém, sob os melhores auspícios. Uma série de incidentes vem sabotar os esforços do jovem músico, que não consegue vencer os obstáculos do seu quotidiano profissional. Ao mesmo tempo, e para agravar tão precária situação, Helen perde o bebé que o casal ansiosamente esperava.
É, finalmente, graças à dedicada ajuda de Si Schreibman, um amigo, que a situação muda e que a sorte vai começar a sorrir a Miller. E os sucessos manifestam-se com maior frequência, quando o músico acaba por encontrar aquela harmonia, aquela sonoridade perfeita que, havia anos, o obsecavam. A popularidade de Miller tornou-se um fenómeno nacional e a sua formação musical passa a ser considerada pelo público como a melhor orquestra de dança de toda a América do norte.
Mas no momento em que o sucesso de Miller atinge o auge, os Estados Unidos são arrastados para o turbilhão da Segunda Guerra Mundial. E Glenn Miller abandona, então, o conchego do lar e a sua fortuna (complemento natural do seu sucesso) para cumprir aquilo a que ele chama o seu dever de americano, alistando-se como voluntário na Força Aérea.
Os arranjos ‘swing’ que Miller faz das tradicionais marchas militares, valem-lhe um acréscimo de notoriedade junto dos soldados em campanha e, também, inúmeras solicitações para animar espectáculos. Em Dezembro de 1944, Glenn Miller aceita o convite para abrilhantar uma grande festa em Paris e divertir, com a sua orquestra, os muitos milhares de G.I’s estacionados em França. A 15 desse mês, Glenn, que até então se encontrava em Inglaterra, embarca para a apelativa ‘Cidade-Luz’ num pequeno avião militar. Mas o aparelho nunca chegou a França, por se ter despenhado acidentalmente (ao que se presume) nas revoltas águas do mar da Mancha…

O MEU COMENTÁRIO
Apesar de todos os êxitos obtidos pelo duo Anthony Mann-James Stewart (que rodaram juntos vários filmes, inclusivamente uma inesquecível série de westerns), esta é, talvez, a película mais popular criada por essa excepcional parelha de profissionais do cinema. Produzida pela companhia Universal, «A História de Glenn Miller» dispôs de um orçamento bastante modesto, facto que não impediu este filme de gerar lucros da ordem dos 8 milhões de dólares. O que para a época não era nada mau. James Stewart, que, desde o fim da guerra, instaurara um sistema de ‘cachet’ baseado numa percentagem das receitas de bilheteira, deverá ter esfregado as mãos de contente, ao constatar, uma vez mais, que essa fórmula (que faria escola) era aquela que melhor compensava o trabalho dos actores.
O grande sucesso deste filme assentou, basicamente, na predilecção de milhões de espectadores pelo ‘swing’ e no carisma de Glenn Miller, tragicamente desaparecido (10 anos antes da estreia desta película, que lhe rende homenagem), quando ele se encontrava no apogeu da sua carreira artística.
«A História de Glenn Miller» é, pois, uma biografia romanceada (ao jeito de Hollywood) da vida e obra do popular músico. É uma fita na qual Anthony Mann evitou cair (com uma certa habilidade, diga-se de passagem) no melodrama lacrimejante, graças a uma judiciosa utilização das melhores composições do artista; que acabaram por servir de contraponto à tensão dramática que, por vezes, se manifesta no desenrolar do filme. É o que acontece, por exemplo, na fase final da fita, quando o espectador toma conhecimento da morte trágica de Miller, ocorrida na sequência de um desastre aéreo. Ao relatar esse nefasto acontecimento, que é –obviamente- de natureza a suscitar a tristeza do público, Mann temperou-o com uma nota alacre, ao inserir simultaneamente na banda sonora um dos mais famosos trechos musicais do ‘rei do swing’, o trepidante «Little Brown Jug».
Refira-se que, apesar de ter sido dobrado por Joe Yukl (um profissional competentíssimo) nas sequências em que toca, James Stewart nunca nos parece ridículo. Isso, porque o actor exigiu que lhe fossem ministradas algumas lições de trombone, antes de se lançar neste trabalho de interpretação, de modo a poder manipular correctamente o instrumento.
A principal protagonista feminina desta excelente obra de Anthony Mann é a simpática June Allyson. Esta popular estrela de Hollywood era casada com o conhecido actor Dick Powell; que, pelo facto de June ter sido a esposa de Stewart em vários filmes, tinha por hábito anunciar, ironicamente, a chegada do popular Jimmy (nas recepções e espectáculos em que participavam) deste modo : «Aí vem o marido da minha mulher» !
Note-se ainda, e para finalizar estas linhas, a participação neste filme de alguns dos melhores e mais afamados ‘jazzmen’ dos anos 50 : Louis Armstrong, Ben Pollack, Gene Kruppa e muitos outros, que, em «A História de Glenn Miller», interpretam as suas próprias personagens.

(M.M.S.)


James Stewart (à direita) interpretando o papel do compositor e chefe de orquestra Glenn Miller


June Allyson e James Stewart são as vedetas do filme que conta (de maneira romanceada) as vidas de Helen e de Glenn Miller


Fotografia do verdadeiro Glenn Miller executando uma das suas famosas melodias, que tanto sucesso alcançaram nos Estados Unidos e na Europa...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

'PAPILIO MACHAON'


A 'Papilio machaon' é uma das mais vistosas borboletas das nossas latitudes. Não acham ?

CORVETA «ACONIT»


Bandeira de guerra das Forças Navais da França Livre


No início do ano de 1943, a batalha do Atlântico estava no seu auge. Os submarinos alemães tentavam interromper, desesperadamente, o fluxo vital de mercadorias (víveres, armas, munições, combustíveis, etc) provenientes do Novo Mundo e que se destinavam a assegurar a sobrevivência da Grã-Bretanha e da U.R.S.S., potências beligerantes aliadas dos Estados Unidos na guerra contra o nazismo. Os navios mercantes tomavam as medidas adequadas para se precaver dos ataques dos chamados ‘lobos cinzentos’ de Doenitz, navegando em comboios protegidos por fortes escoltas navais, nas quais figuravam unidades especialmente concebidas para a luta anti-submarina : porta-aviões ligeiros, cruzadores, contratorpedeiros, corvetas. Mas a ousadia e a perseverança dos submarinos tudescos era de tal ordem, que raro era o comboio que não sofria perdas severas. Em navios e respectivos carregamentos, mas também em homens. A balança acabou, no entanto, por pender para o lado dos Aliados e a crucial batalha do Atlântico veio juntar-se ao rol de vitórias alcançadas na luta contra Hitler e o seu poder maquiavélico. A vitória final dos Aliados teria lugar no dia 1º de Maio de 1945, quando o Exército Vermelho -superiormente comandado pelo marechal Jukov- conquistou Berlim e obrigou o ‘führer’ e alguns dos seus mais influentes seguidores a suicidarem-se.
Foram muitos os navios e as tripulações (de várias nacionalidades) que se ilustraram na luta contra os famigerados ‘U-boots’ germânicos, contribuindo, assim, para a derrocada do nazismo. Um deles foi a corveta «Aconit», das Forças Navais da França Livre, sediadas em Inglaterra e colocadas sob o comando supremo do general Charles de Gaulle. Este modesto navio (de, apenas, 1 000 toneladas de deslocamento) escoltava -no início do mês de Março de 1943- o comboio denominado HX 228, que navegava no Atlântico norte. Atacado pelos submersíveis inimigos, esse comboio registou a perda de vários navios mercantes. Durante a acção, ocorrida na noite de 10 para 11 do supracitado mês, a «Aconit» afundou dois submarinos alemães, o «U-444» e o «U-432». Mas a proeza da «Aconit» não se resumiu a isso, já que a equipagem da corveta francesa pôde ainda salvar duas dezenas de vidas : membros da tripulação do contratorpedeiro britânico «Harvester», torpedeado por um submarino inimigo e alguns elementos do «U-432», que haviam sobrevivido aos três certeiros tiros de artilharia expedidos do pequeno navio das F.N.F.L..


A corveta «Aconit» era um modesto navio de guerra cedido (temporariamente) pela Grã-Bretanha às F. N. F. L.. Na noite de 10 para 11 de Março de 1943, quando assegurava a protecção do comboio HX 228, a «Aconit» cometeu a proeza de afundar dois submarinos à poderosa 'Kriegsmarine', contribuindo, assim -modestamente, mas com glória- para a vitória dos Aliados na longa e renhida batalha do Atlântico


Londres, anos 40 : o general Charles de Gaulle passa em revista uma unidade de marinheiros das Forças Navais da França Livre

TINTIN FEZ 80 ANOS EM 2009


Foi nas páginas do «Cavaleiro Andante» que, em meados do século XX, eu travei conhecimento com Tintin e com os seus companheiros. Há 10 anos cedi à tentação e adquiri a integralidade dos álbuns du 'petit reporter', contidos numa caixa especial lançada pelas Edições Casterman por ocasião do 70º aniversário da criação deste singular herói da Banda Desenhada belga.

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Tintin fez 80 anos no início deste ano. Bonita idade para um boneco concebido em 1929 por George Rémi, aliás Hergé, para o suplemento juvenil de um jornal católico de Bruxelas : «Le XXème Siècle». Tintin 'estreou-se', mais precisamente, a 10 de Janeiro do supracitado ano, nas páginas do 11º número do «Petit XXème». De modo que já está para breve a comemoração do seu 81º aniversário. Diga-se, em abono da verdade, que o famoso repórter da BD não obteve de imediato o êxito e a simpatia que hoje tem. Os álbums «Tintin no País dos Sovietes» e «Tintin no Congo» até lhe valeram a reputação (depois dissipada) de personagem reaccionária e racista.
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Hergé diante de algumas edições dos álbuns de Tintin, que foram traduzidos em muitas dezenas de línguas


Hergé junto à estátua do seu herói, erigida no parque Wolvendael, em Uccle, Bruxelas. O autor deste original monumento é o escultor Nat Neujean

O CHARME DA PUBLICIDADE DE OUTRORA


Esta publicidade de finais dos anos 40 (do século XX) proclamava que a extinta Pan America era a mais experiente companhia aérea do mundo; e convidava a um voo, para Nova Iorque, a bordo do Boeing 377 'Stratocruiser', um quadrimotor civil derivado do bombardeiro B-17, a famosa e temível 'Fortaleza Voadora'. Em função da sua versão, o Boeing 377 podia receber e transportar entre 55 e 100 passageiros. A BOAC, uma também desaparecida companhia aérea (britânica), utilizou este tipo de aparelho até ao limiar dos anos 60


Este cartaz é muito mais antigo que o precedente, pois data de ano indeterminado do início do século passado. Nele, uma conhecida marca francesa de espirituosos apresenta um dos seus licores : o curaçao, que, como toda a gente sabe, é confeccionado com extractos de laranjas amargas. Repare-se no curioso ajaezamento da mula..


Este 'reclamo' a uma conhecida marca de costura norte-americana apareceu -em 1943- numa página da versão brasileira das Selecções do Reader's Digest. Trata-se, na realidade, de uma série de conselhos, dados pela Singer, às donas de casa que já possuíam uma das suas máquinas, de modo a que estas pudessem tirar um melhor partido (e consequente prazer) do útil engenho doméstico

domingo, 27 de dezembro de 2009

PAULA REGO


Por detrás deste sorriso maroto (que a senhora me perdoe a ousadia) esconde-se uma artista verdadeiramente excepcional. A nossa compatriota Paula Rego -que reside e trabalha em Londres- é internacionalmente reconhecida como uma das maiores pintoras do seu tempo...



...e esta sua obra aqui está para o atestar

LÁ VAI O COMBOIO, LÁ VAI A APITAR...


Os meus primeiros comboios (muito pachorrentos) eram puxados por máquinas a vapor deste tipo. As carruagens eram toscas, com assentos de madeira e varandim em cada extremidade.



A transição do vapor para o diesel marcou um progresso notável. Tanto em termos de velocidade, como de comodidade para passageiros e pessoal ferroviário


Sempre gostei muito de viajar de comboio. Aprecio, nesse meio de transporte, o facto de (nos dias de hoje) ele ir a quase todo o lado, o conforto oferecido aos passageiros e a regularidade e a velocidade proporcionadas pelas composições que circulam nos grandes eixos. Assim como o preço dos bilhetes, que, geralmente, ainda anda muito aquém do das viagens aéreas efectuadas numa companhia tradicional.
Um destes dias dei-me ao trabalho de contar os quilómetros que já percorri de comboio e cheguei à conclusão de que atingem o milhão ! Isso mesmo : 1 milhão de quilómetros sobre carris !
A maioria desses quilómetros (uns 800 000 ou mais) foi feita em França, nas composições da S.N.C.F., companhia ferroviária estatizada equivalente à nossa hoje fragilizada C.P.. Durante 15 anos efectuei o trajecto Ruão-Paris St. Lazare-Ruão; mas também, em percurso alternativo, Ruão-Havre-Ruão. Por razões profissionais, está bem de ver. Em Portugal também realizei viagens diárias, durante 4 anos, quando morava no Barreiro e frequentava o Liceu Nacional de Setúbal na já longínqua década de 50. Do século passado, entenda-se. Também utilizei, esporadicamente, comboios belgas, alemães, noruegueses, italianos (no troço siciliano de Palermo-Cefalu) e espanhóis. Tive o privilégio de viajar (uma dúzia de vezes) no TGV, nos percursos Paris-Nantes-Paris e Paris-Avignon e, à medida que a linha era ampliada, Paris-Montpellier e Paris-Sète. Com regresso à capital francesa. As linhas que mais frequentei em Portugal foram as que, de Lisboa, conduzem à minha terra do norte alentejano. Inicialmente aquela que terminava numa estação do ramal de Cáceres e, agora, a que me conduz à capital a partir de uma estação (abandonada, como tantas) da recém-electrificada linha da Beira Baixa; que, nesse troço, acompanha o curso do rio Tejo.
Embora já seja sexagenário, ainda não perdi a esperança de, um dia, apanhar o TGV para Madrid ou Paris. Uma linha de grande velocidade necessária (ao contrário da Lisboa-Porto) para desenclavar o país e uma excelente alternativa ao avião para as muitas centena de milhar de portugueses que residem em França e já se fartaram das monótonas viagens de automóvel. Veremos se a obra se faz …



Esta foi a carruagem em que eu mais viajei. É a confortável 'Corail' francesa, que também é utilizada em Portugal, nomeadamente pelos comboios Intercidades. A diferença está na estrutura : as carruagens nacionais caracterizam-se pela utilização de chapa ondulada em aço inoxidável



Esta foto -tirada em 3 de Abril de 2007- é histórica. Mostra, algures em França, a composição TGV 'Duplex 4402' pulverizando o record mundial de velocidade sobre carris : 574 km/h !

TORANJAS


É sabido que certas regiões de Portugal reunem as condições ideais para produzir todas as espécies de citrinos. Com qualidade e em grande quantidade. Mas, contrariamente aos nossos vizinhos do lado, ninguém produz por cá (que eu saiba) os pomelos e as toranjas que a vizinha Espanha exporta para toda a Europa e não só. Eu adoro as toranjas, frutos sumarentos, saborosos e com propriedades benéficas para a saúde. Nomeadamente na prevenção de cancros do sistema digestivo e outros. Além de Portugal não produzir estes frutos, também é difícil encontrá-los à venda no nosso país, quando, em França e no norte da Europa, eles estão à venda todo o ano e em qualquer lugar. Porque será ?


A polpa das toranjas oriundas da Florida (EUA) tem esta belíssima tonalidade e o fruto é, geralmente, muito doce. Mas há toranjas de polpa amarela que, do ponto de vista gustativo, não lhes ficam atrás. O meu falecido pai plantou duas torangeiras no quintal da sua casa do Alto Alentejo. Que estão lindas, embora uma delas produza frutos de peso desmedido (mais de 1 kg cada um) e intragáveis; contrariamente à segunda árvore que dá frutos de tamanho muito mais reduzido, mas comestíveis, direi mesmo excelentes.

ELES COMEM TUDO...


OS VAMPIROS

No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas

São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas de um credo
E não se esgota
O sangue da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

(Zeca Afonso, trovador e resistente)


Os vampiros do antigamente -que o saudoso Zeca Afonso denunciou nos seus imortais versos- estão de regresso. Já cá estão todos, de novo, encapotados com diferentes vestes e beatíficos sorrisos. Há que apontá-los a dedo, porque são eles que semeiam a desgraça nesta terra que é a nossa e que continuam a beber o sangue da nossa pacífica gente. Os novos sugadores de sangue são aqueles que vão para a política para ganhar protagonismo e para enriquecer rapidamente, quando a política, como qualquer outro acto cívico, é servir. Com honra. Os novos vampiros são esses patrões, que vivem em mansões de ‘stars’ hollywoodianas, que se deslocam em Ferraris e outros veículos de luxo, que enfeitam as mulheres e as amantes com ouro e diamantes, que as abafam com visons e zibelinas e vêm, depois, negar -sem pudor, publicamente, diante das câmaras de televisão- alguns cêntimos diários de aumento salarial aos mais sacrificados dos trabalhadores portugueses. Aqueles que recebem o ordenado mínimo. Que só não produzem mais e melhor, porque vivem num país onde não se investe convenientemente na formação profissional e na cultura geral de homens e mulheres, que merecem algo de melhor do que aquilo que lhes servem , em doses maciças e quotidianas, os canais de televisão (mesmo os estatais) : telenovelas, jogos de futebol, concursos idiotas e outras patetices. Os novos comilões sem lei são os banqueiros (alguns deles vindos do mundilho da política), que, depois de nos terem imposto uma crise financeira sem precedentes, continuam a embolsar somas astronómicas. Que, de toda evidência, não merecem. Que nunca mereceram. Os novos vampiros são aqueles que, com falinhas mansa e «pés de veludo», vêm apaziguar os espíritos daqueles que sofrem e que ainda têm alguma capacidade para se revoltar contra as injustiças e o sofrimento imposto por uma sociedade cada vez mais feroz para com os pobres, os desempregados, os desesperados. Enfim, para com todos os indigentes (que são, oficialmente, 2 milhões de pessoas) desta nação sem rei nem roque; que parece andar à deriva, depois de ter sido espezinhada e pilhada. Irra !!!



Quando é que surgirá por aí um novo poeta-paladino que -como o saudoso Zeca Afonso- empunhará a bandeira do talento e da coragem, para reclamar mais justiça para este nosso povo, desprezado e oprimido pela ditadura do dinheiro e da pouca-vergonha ?

sábado, 26 de dezembro de 2009

COISA LINDA


Este passarinho, cujo nome eu ignoro na nossa língua (em francês chama-se 'paruline à gorge orangée'), está aqui para nos lembrar, a todos, quantas criaturas lindas e frágeis coexistem connosco na Natureza. Criaturas que é nosso dever continuar a amar e a proteger neste mundo de brutalidade sem freio.

A ARTE DO CARTAZ


Este cartaz data dos anos difíceis da Segunda Guerra Mundial e incita os cidadãos dos Estados Unidos da América a pouparem os víveres e tudo o mais. O soldado esfarrapado que ilustra o cartaz é um dos combatentes do general George Washington, que viveu o inferno de Valley Forge (1777-1778), onde -sem mantimentos e sem agasalhos- os independentistas sofreram 2 000 baixas; por causa do frio, da fome e de doenças. A esses heróis exemplares não foi necessário, naturalmente, dizer para que poupassem o que minguava...

CARTA DE PARIS


de Mário Sá-Carneiro :

É como se esperasse eternamente
A tua vinda certa e combinada
Aí em baixo, no Café Arcada,
Quase no extremo deste continente


para :

Fernando Pessoa, em Lisboa

CHICKEN TIKKA


O 'Chicken Tikka' é um dos pratos mais conhecidos internacionalmente da culinária indiana; e é também um dos mais apetecíveis. Combina carne (limpa) de galinácios com uma grande variedade de especiarias orientais. As fotos que aqui deixo fazem-me crescer água na boca. Tanto mais que, vivendo agora numa região isolada da charneca alentejana, me estão vedados este e outros pitéus de exótica origem. Dos quais eu muito gosto...

VIVA O BRASIL !


O paulista Mário de Andrade (1893-1945) foi um dos mais importantes intelectuais brasileiros do século XX. Foi poeta, prosador, crítico literário, musicólogo, teórico de arte, jornalista, fotógrafo, etc. (O retrato aqui exposto é da autoria da grande pintora Tarsila do Amaral)


...
E abre alas que eu quero passar !
Nós somos os brasileiros auriverdes !
As esmeraldas das araras
Os rubis dos colibris
Os abacaxis, as mangas, os cajus
Atravessam amorosamente
A fremente celebração do universal !

Que importa que uns falem mole, descansado
Que os cariocas arranhem os érres na garganta
Que os capixabas e poroaras escancarem as vogais ?
Que tem se o quinhentos réis meridional
Vira cinco tostões do Rio para o Norte ?
Juntos formamos este assombro de misérias e grandezas,
Brasil, nome de vegetal !
...


O que mais impressiona quando se olha para um mapa da América do sul é a vastidão territorial do Brasil. Um país que -quer se queira ou não- os Portugueses fizeram assim, grande e uno, apesar de todas as oposições, de todos os tratados, de todas as guerras. Mário de Andrade, poeta modernista, autor dos versos acima referidos, reconhecia esse mérito aos descobridores e desbravadores das terras de Vera Cruz no seu longo poema «Noturno de Belo Horizonte», escrito em 1924, dizendo :

A Espanha estilhaçou-se numa poeira de nações americanas
Mas sobre o tronco sonoro da língua do ão
Portugal reuniu vinte e duas orquídeas desiguais.
Nós somos na Terra o grande milagre do amor.

FEÉRICA LAS VEGAS !

Há 10 anos fui parar a Las Vegas, no decurso de um circuito turístico efectuado no Oeste americano. Bem contra a minha vontade, visto achar, então, que -na cidade do jogo e de todos os outros vícios- me iria aborrecer. Finalmente gostei da minha curta estadia ali (talvez por isso mesmo, por ser breve) e até acabei por ceder ao apelo das sereias, investindo ½ dólar (nem mais, nem menos) nas famosas ‘slot machines’ de um dos mais famosos casinos da Pérola do Deserto. Estive hospedado no Hotel Excalibur, que era na altura (e penso que ainda é) o 3º maior da cidade e dos Estados Unidos, com mais de 4 000 quartos, 4 000 empregados e 4 000 dos tais aparelhos caça-níqueis, que fazem palpitar o coração de uma urbe que se alimenta e vive exclusivamente do dinheiro dos turistas. O Excalibur é um conjunto de imóveis ‘kitsch’, com uma arquitectura delirante, inspirada -como o seu nome sugere e uma das fotos que aqui deixo ilustra- na lenda arturiana. Os quartos estão situados nos dois edifícios que envolvem o conjunto acastelado e o casino -enorme- funciona (24 horas por dia) no vastíssimo subsolo proporcionado pela área coberta. O aeroporto de Las Vegas está mesmo ali ao lado -no meio da cidade- e, curiosamente, o barulho dos aviões é quase imperceptível. Confesso que gostaria de voltar àquelas paragens e a outras do vasto e mítico Faroeste, onde tudo é grande e surpreendente : a natureza, a paisagem urbana e as pessoas. O problema é que renovar um passeio dessa natureza é, para mim e agora, praticamente impossível. Terei que deixar esse privilégio para quem fala da crise, mas não sofre as consequências da desvalorização dos ordenados e das pensões de reforma…


O Excalibur, uma das maiores unidades hoteleiras de Las Vegas e dos Estados Unidos. O seu estilo 'kitsch' é evidente...


O Caesars Palace é um dos mais concorridos hotéis-casinos de Las Vegas. A sua galeria comercial (que eu tive ocasião de visitar) é impressionante pelo seu movimento. Fiquei convencido de que o seu volume de vendas é superior a de 3 ou 4 cidades médias portuguesas


O hotel-casino Treasure Island oferecia -há 10 anos- o melhor espectáculo de rua da cidade de Las Vegas : a impressionante reconstituição de um combate entre um navio pirata e uma fortaleza setecentista. Simplesmente fabuloso !

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

«LE TEMPS DES CERISES»


Cerejas : vermelhas como o sangue dos mártires...


O TEMPO DAS CEREJAS

Escrito por Jean-Baptiste Clément em época anterior à da insurreição da Comuna (1871), o poema «Le Temps des Cerises» aparece associado a este drama da História de França, pelo facto do supracitado letrista ter -a posteriori- dedicado a canção (musicada por Antoine Renard) a uma enfermeira morta nas barricadas durante a Semana Sangrenta. O facto dos frutos evocados nesta bonita e nostálgica melodia serem de cor vermelha, idêntica ao do sangue derramado pelas inúmeras vítimas da repressão, ajudou a conectá-la com a causa da esquerda francesa e a fazer de «Le Temps des Cerises» uma canção de luta. O poema foi cantado, por milhares de manifestantes, em Maio de 1968 nas ruas de Paris e interpretada por Barbara Hendricks na emblemática praça da Bastilha, durante uma homenagem prestada a François Mitterrand no dia 10 de Janeiro de 1996.
Existem algumas variantes do texto original, mas o mais conhecido é, sem dúvida, aquele que aqui deixamos à curiosidade de quem tem a paciência de nos ler :

LE TEMPS DES CERISES

Quand nous chanterons le temps des cerises
Et gai rossignol et merle moqueur
Seront tous en fête
Les belles auront la folie en tête
Et les amoureux du soleil au coeur
Quand nous chanterons le temps des cerises
Sifflera bien mieux le merle moqueur

Mais il est bien court le temps des cerises
Où l’on s’en va deux cueillir en rêvant
Des pendants d’oreilles…
Cerises d’amour aux robes vermeilles
Tombant sous la feuille en goutes de sang…
Mais il est bien court le temps des cerises
Pendants de corail qu’on cueille en rêvant !

Quand vous en serez au temps des cerises
Si vous avez peur des chagrins d’amour
Evitez les belles !
Moi qui ne crains pas les peines cruelles
Je ne vivrais pas sans souffrir un jour…
Quand vous en serez au temps des cerises
Vous aurez aussi des chagrins d’amour !

J’aimerais toujours le temps des cerises
C’est de ce temps-là que je garde au coeur
Une plaie ouverte !
Et dame fortune en m’étant offerte
Ne pourra jamais calmer ma douleur…
J’aimerais toujours le temps des cerises
Et le souvenir que je garde au coeur !



Esta fotografia data do ano de 1871 e mostra elementos da Guarda Nacional defendendo uma barricada erigida pelos 'Communards' numa rua de Paris. A canção «Le Temps des Cerises», embora escrita antes dos acontecimentos que ensanguentaram a capital de França, tornou-se popular nas fileiras dos sublevados e é, ainda hoje, considerada um dos hinos (não oficiosos, obviamente) da esquerda política gaulesa

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

VERDE FOI MEU NASCIMENTO...



Terminou a apanha da azeitona. E os lagares já começaram a transformar os frutos das nossas oliveiras nesse dourado e precioso líquido que é o azeite. Nos nossos campos e aldeias a tradição à volta da colheita e da lagaragem já não são o que foram; mas, ainda assim, é com alguma ansiedade que alguns portugueses esperam a chegada do azeite novo. Que coincide com a Consoada e com os tradicionais ritos natalícios. Este tempo faz-me lembrar a tal adivinha, que toda a gente conhecia, e que dizia tudo sobre a importância que já teve o generoso, o vital fruto dos nossos olivais :

Verde foi meu nascimento
E de luto me vesti
Para dar a luz ao mundo
Mil tormentos padeci

CUIDADO COM A HIGIENE ORAL !


Lindo gatinho. Que descura, no entanto, a sua higiene oral...

«JOHNNY GUITAR», UMA OBRA-PRIMA DO CINEMA AINDA SEM DVD EDITADO EM PORTUGAL


Os brasileiros já podem ver «Johnny Guitar» em DVD. Isto, graças à editora Versátil Home Vídeo, que teve a rica ideia de gravar o filme em formato universal (ALL); que pode ser utilizado em qualquer uma das zonas de leitura.

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O grande cineasta italiano Bernardo Bertolucci disse deste filme -realizado em 1954 por Nicholas Ray- que ele foi o «primeiro western barroco». «Johnny Guitar» é, de qualquer modo, um caso singular no cinema do género. Nem que seja pelo facto de nos contar uma das mais belas e mais pungentes histórias de amor jamais levadas ao écran. Pena é que os jovens cinéfilos portugueses continuem a ignorá-la, em consequência da falta de sensibilidade (será só isso ?) dos editores nacionais de DVD's.