segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
OS FILMES DA MINHA VIDA (7)
«A DESAPARECIDA»
FICHA TÉCNICA
Título original : «The Searchers»
Origem : E. U. A.
Género : Western
Realização : John Ford
Ano de estreia : 1956
Guião : Frank S. Nugent
Fotografia (c) : Winston C. Hoch e Alfred Gilks
Música : Max Steiner
Montagem : Jack Murray
Produção : C. V. Whitney e Merian C. Cooper
Distribuição : Warner Bros.
Duração : 119 minutos
FICHA ARTÍSTICA
John Wayne …………………………..……………….… Ethan Edwards
Jeffrey Hunter …………………………………….…. Martin Pawley
Vera Miles ……………………………….……………..…. Laurie Jorgensen
Ward Bond …………………....……………………….... capitão-reverendo Clayton
Natalie Wood ………………………………………....… Debbie Edwards
John Qualen …………………..…………………………. Lars Jorgensen
Olive Carey …………….…………………………………. senhora Jorgensen
Henry Brandon ……………….….………….…….…… chefe Scar
Ken Curtis ………………………….………………....….. Charlie McCorry
Harry Carey Jr ……………………………….….……. Brad Jorgensen
Hank Worden……………………………….……………..Moses Harper
Antonio Moreno…………………………………………..Emilio Figueroa
SINOPSE
O cidadão texano Ethan Edwards, que combatera nas fileiras do exército Confederado –vencido pelas tropas Unionistas aquando da fratricida guerra de Secessão- regressa, finalmente, ao lar, para aí descançar o corpo e tentar sossegar o espírito.
Acontece, porém, que o lar do ex-combatente da guerra civil é um humilde rancho implantado numa região conturbada do estado da Estrela Solitária, onde os índios ainda não foram pacificados (entenda-se exterminados) e lançam ataques mortíferos contra os colonos isolados.
É na sequência de uma dessas sanguinolentas agressões dos pele-vermelhas que a família Edwards é praticamente dizimada e que o antigo cavaleiro sulista –acompanhado por Martin Pawley, um adolescente- decide perseguir o temível Scar, chefe de guerra dos Comanches Noyakees, apontado como responsável pela morte dos seus familiares e pelo rapto de Debbie, uma sua sobrinha de dez anitos.
Calcorreando o imenso território do Texas, Ethan e Martin vão –por razões e interesses que divergem e que, por vezes, até se opõem violentamente- gastar cinco anos das suas vidas para tentarem descobrir o paradeiro da desaparecida Debbie.
Passado esse tempo, a menina que, entretanto e pela força natural das coisas, se fizera mulher e até se tornara numa das esposas de Scar, já não vê na liberdade oferecida pelos seus familiares a redenção pela qual tão ansiosamente havia esperado. A jovem acaba, no entanto, por seguir os dois homens, talvez com o fatalismo daqueles que adivinham que, naquele tempo e naquele lugar, já nada, nem ninguém pode imobilizar a inexorável roda da História e assegurar a sobrevivência dos Comanches, que haviam sido, durante séculos a fio, os livres e orgulhosos senhores dos vastos espaços do sudoeste americano.
Ethan, que não encontrara no termo da sua longa jornada a paz interior (que era, porventura, o primeiro e inconfessado objectivo da sua tormentosa busca), afasta-se, desta vez definitivamente, de uma terra que já fora a sua terra e de uma comunidade com a qual ele já não partilha afinidades, nem esperanças…
O MEU COMENTÁRIO
O genérico desfila por cima de uma tosca parede de tijolo, enquanto o grupo musical «Sons of the Pionneers» (cujo vocalista foi o famoso Roy Rogers, lembram-se ?) entoa uma melodia com o sabor típico das baladas do velho Oeste.
As primeiras imagens da fita mostram a porta de uma humilde cabana de pioneiros, que se abre empurrada pela mão de uma mulher. A vista dela (e a dos espectadores) espraia-se pela agreste e luminosa paisagem circundante. O milagre do cinema produz-se, uma vez mais, já que, num ápice, John Ford e os seus operadores de câmara nos transportam da confortável poltrona em que nos havíamos acomodado para uma inóspita região do Texas de fins do século XIX.
Ao longe, envolvido na poeira do caminho, surge um cavaleiro solitário. Ethan Edwards –o herói do momento- entra assim no filme, com as feições e o corpanzil inconfundíveis de John Wayne…
É, pois, deste modo, quase banalmente, que começa a acção da fita «A Desaparecida» («The Searchers»), obra que é, na minha modesta opinião, o melhor e mais emocionante western jamais realizado pela formidável máquina de produção hollywoodiana. Com argumento colhido num trabalho de Alan LeMay, a obra-prima do género foi livremente inspirada por um facto autêntico da História do Far West : o rapto, perpetrado pelos Comanches, de Ann Cynthia Parker, uma mulher branca que se tornaria, anos depois de ter sido sequestrada, a mãe de um dos mais carismáticos chefes ameríndios do sudoeste dos Estados Unidos : Quanah Parker.
Rodado nalguns dos lugares mais fotogénicos do Oeste americano (como Monument Valley, tão caro ao coração de John Ford), o filme «A Desaparecida» é, para além de contar uma história comovente, um regalo visual, que justifica plenamente o fascínio que a película ainda hoje exerce (mais de meio século depois da sua estreia) sobre os cinéfilos em geral e sobre os westernófilos em particular. Eu que me gabo de pertencer, simultaneamente, às duas categorias de fãs, não me envergonho minimamente de confessar que já vi o filme mais de trinta vezes. Graças, naturalmente, à facilidade que nos trouxe a invenção dessas maravilhosas máquinas que são os leitores de vídeos e às cassetes e DVD’s. Trinta vezes, sim senhores e sempre com um renovado e intangível prazer.
«A Desaparecida», «The Searchers», «Rastros de Ódio», «Centauros del Desierto», «Sentieri Selvaggi», «De Swarte Valk», etc ! Mil nomes para designar a universalidade de uma fita realizada em 1956, tantas vezes imitada e jamais igualada; porque não é John Ford quem quer e porque ninguém de outro poderia transmitir aos actores (e respectivas personagens) deste mítico filme o fogo sagrado que ele comunicou a Wayne (actor que passou a vida a ser injustamente denegrido…), a Jeffrey Hunter, a Natalie Wood, a Bond e à legião de excepcionais actores secundários de que se rodeou, para o efeito, o mais famoso e genial zarolho de Hollywood.
As cenas de exterior de «A Desaparecida», captadas por dois competentes e inspirados técnicos de imagem –Hoch e Gilks- num quadro paisagístico excepcional, são notáveis. Atente-se, por exemplo, como as referidas paisagens mudam, se alteram, à medida que os dois cavaleiros empenhados em localizar a jovem raptada se deslocam no tempo e no espaço geográfico do imenso Texas. Assim, diante dos olhos maravilhados dos espectadores, as belas regiões arborizadas, onde correm impetuosas torrentes que arrastam os gelos invernais, contrastam com ardentes e áridos desertos. As bucólicas colinas alternam com a monótona imensidão do ‘llano estacado’, esse autêntico mar de erva que tanto havia impressionado Francisco Vásquez de Coronado e os outros conquistadores espanhóis que visitaram o território no século XVI.
Depois, há aquela população de colonos brancos oriundos da Suécia, da Irlanda e de outras regiões da velha e distante Europa, que procurou nas plagas do Oeste americano promessas (nem sempre satisfeitas) de liberdade, de paz e de pão. Nesta magnífica obra de Ford que é «A Desaparecida», esses rudes pioneiros apresentam o estigma da autenticidade, que é, afinal, uma constante do cinema realizado pelo incontestado mestre do western.
É por causa disso (e pelo muito mais que fica por dizer, pelo facto de me faltarem as palavras certas) que eu muito estimo, esta portentosa película que é «A Desaparecida». Que é, de todos os filmes da minha vida, aquele que eu mais amo. Sem sombra de vergonha, sem falsos pudores.
(M.M.S.)
Natalie Wood no papel da raptada Debbie Edwards. Curiosamente, a sua filha Lana interpretou o papel de Debbie ainda criança
Os actores Ward Bond, John Waine e Dorothy Jordan numa cena do início da fita
Esta foto representa uma das cenas mais chocantes do filme : Debbie, a jovem esposa de Scar (Cicatriz) mostra ao seu tio e ao seu irmão adoptivo a lança do chefe de guerra dos Comanches, da qual pendem os escalpes de alguns membros da sua própria família
Este retrato de Harmon Adams (pintando num vistoso prato de colecção) representa o chefe Comanche Quanah Parker, filho da mulher que inspirou -a Alan LeMay- a figura fulcral de «A Desaparecida»
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