segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

«O CACILHEIRO»


Lá vai no mar da Palha o cacilheiro,
Comboio de Lisboa sobre a água;
Cacilhas e Seixal, Montijo mais Barreiro,
Pouco Tejo, pouco Tejo e muita mágoa.

Na ponte passam carros e turistas
Iguais a todos os que há no mundo inteiro,
Mas, embora mais caras, a ponte não tem vistas
Como as dos peitoris do cacilheiro.

Leva namorados, marujos,
Soldados e trabalhadores,
E parte de um cais
Que cheira a jornais,
Morangos e flores.
Regressa contente,
Levou muita gente
E nunca se cansa.
Parece um barquinho
Lançado no Tejo
Por uma criança.

Num carreirinho aberto pela espuma,
Lá vai o cacilheiro Tejo à solta,
E as ruas de Lisboa, sem ter pressa nenhuma,
Tiraram um bilhete de ida e volta.

Alfama, Madragoa, Bairro Alto,
Tu-cá tu-lá num barco de brincar,
Metade de Lisboa à espera do asfalto,
E já meia saudade a navegar.

Leva namorados, marujos,
Soldados e trabalhadores,
E parte de um cais
Que cheira a jornais,
Morangos e flores,
Regressa contente,
Levou muita gente
E nunca se cansa,
Parece um barquinho
Lançado no Tejo
Por uma criança.

Se um dia o cacilheiro for embora,
Fica mais triste o coração da água,
E o povo de Lisboa dirá, como quem chora,
Pouco Tejo, pouco Tejo e muita mágoa.



Um trio de luxo -José Carlos Ary dos Santos (poema), Paulo de Carvalho (música) e Carlos do Carmo (interpretação)- aliou-se para fazer de «O Cacilheiro» uma das mais belas canções portuguesas do século XX. Canção que perdurará, sem dúvida, para além dos tempos. Aqui fica a letra da dita cuja (como diria o outro), como testemunho da sua perenidade e como homenagem póstuma ao poeta Ary dos Santos, que nos deixou há 25 anos.

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