domingo, 13 de dezembro de 2015
TRADIÇÕES DO PASSADO
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Não sei, francamente, se o traje da desaparecida Côca de Portalegre é resquício da longa presença árabe nesta região do centro-sul de Portugal que é a minha. Mas a verdade, é que um leigo como o escrevinhador de serviço é, obrigatoriamente, levado a fazer comparações, a lançar pontes, quando tem diante dos olhos a imagem que aqui se apresenta. Talvez alguém, entendido no assunto, possa definitivamente estabelecer essa ligação, ou nos possa explicar a ausência de afinidades entre esta vestidíssima senhora e aquelas que, nos nossos dias e no mundo islâmico radical (que pode ser num qualquer recanto de França ou de Inglaterra) usam burqas e niqabs. O traje da côca portalegrense -que, ao que sei, perdurou na cidade cantada por Régio até aos anos 30 da passada centúria- era composto por várias peças todas elas de cor preta. E ainda se usava frequentemente nos casamentos locais em inícios do século XIX. Depois, evoluiu para vestimenta de viúva, usando-a também as outras senhoras para irem à missa em dias de confissão (sobretudo na Semana Santa) ou para apresentarem condolências. Há igualmente quem pretenda, que o traje da côca era adoptado para preservar o anonimato das mulheres, aquando de um encontro galante e... moralmente proibido. Ao que li sobre o assunto, esta roupagem -que cobria a mulher dos pés à cabeça- era confecionada com tecidos de algodão, se a sua utilizadora pertencia a uma classe social modesta, ou em brocado de seda e/ou em macia lã merina, se a senhora que a vestia pertencia à elite portalegrense. Para finalizar este desajeitado texto, quero ainda recordar, que as mães do Alto Alentejo (inclusivamente a minha) costumavam atemorizar os seus rebentos mais irrequietos com a velada ameaça de «irem buscar a côca»; se as crianças persistissem em fazer travessuras.
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