domingo, 13 de dezembro de 2015

A ESSÊNCIA DOS NOSSO POETAS



MAKÈZÚ

"Kuakié!... Makèzú..."
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O pregão da avó Ximinha
É mesmo como os seus panos
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos.
Avó Xima está velhinha
Mas de manhã, manhãzinha,
Pede licença ao reumático
E num passo nada prático
Rasga estradinhas na areia...
Lá vai para um cajueiro
Que se levanta altaneiro
No cruzeiro dos caminhos
Das gentes que vão p´ra Baixa.
Nem criados, nem pedreiros
Nem alegres lavadeiras
Dessa nova geração
Das "venidas de alcatrão"
Ouvem o fraco pregão
Da velhinha quitandeira.
- "Kuakié!... Makèzú, Makèzú..."
- "Antão, véia, hoje nada?"
- "Nada, mano Filisberto...
Hoje os tempo tá mudado..."
- "Mas tá passá gente perto...
Como é aqui tá fazendo isso?"
- "Não sabe?! Todo esse povo
Pegô num costume novo
Qui diz qué civrização:
Come só pão com chouriço
Ou toma café com pão...
E diz ainda pru cima
(Hum... mbundu Kene muxima...)
Qui o nosso bom makèzú
É pra véios como tu."
- "Eles não sabe o que diz...
Pru qué Qui vivi filiz
E tem cem ano eu e tu?"
- "É pruquê nossas raiz
Tem força do makèzú!..."


** Viriato da Cruz (1928-1973), poeta angolano. Nasceu em Vila Amboim e morreu na capital chinesa, onde se exilou, depois do seu desentendimento com a direção do M.P.L.A., da qual fez parte. Teve uma vida infeliz, mas deixou uma obra publicada notável. É considerado (a justo título) como um dos grandes impulsionadores da poesia angolana. Este bonito poema, foi musicado e cantado pelo artista André Mingas (já desaparecido, em 2011), também ele natural de Angola **

 

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