Fruto de uma coprodução franco-argelina, o filme «ÉLISE OU LA VRAIE VIE» (não encontrei referências fiáveis sobre o título português) foi inspirado a Michel Drach, seu realizador, pelo romance homónimo de Claire Etcherelli, vencedor do Prémio Fémina em 1967. A sua acção decorre em França nos tempos da guerra da Argélia e conta-nos a história de Élise, uma moça de Bordéus, que, a convite do seu irmão Lucien, vai para Paris (onde aquele já reside) à procura de trabalho. Élise acaba por encontrar emprego numa fábrica e por descobrir ali as cadências laborais desumanas impostas pela entidade patronal, ao mesmo tempo que se dá conta do fosso racista que separa os trabalhadores franceses dos seus colegas árabes. Pouco a pouco, Élise vai estabelecer relações de confiança com Arezki, um seu colega de turno, norte-africano e militante da causa da independência da Argélia. Essa amizade acaba por descambar em amor. Em amor puro e profundo, contrariado pelas injúrias e pelos remoques irónicos e raivosos dos colegas europeus, que veem nessa ligação algo como um pacto selado por Élise com os inimigos do momento. A essa deplorável situação da vida da moça bordalesa, vêm juntar-se a morte de Lucien, o despedimento de Arezki (por ter agredido um contramestre da fábrica) e as perseguições policiais; que, um dia, se abatem sobre o jovem argelino, que desaparece sem deixar rasto. Desesperada, Élise abandona Paris para regressar à sua terra natal, mas transportando a esperança de que, um dia, o amor da sua vida chegue a ler a carta que ela lhe escrevera...
Esta película, que Michel Drach realizou em 1970, é, no dizer do seu autor, «um filme humanista e moralista... mas também, obviamente, um filme político». «ÉLISE OU LA VRAIE VIE» recria, com muita honestidade e sensibilidade, a atmosfera que se respirava em França (nomeadamente na capital) nesse final da década de 50, poluída pelos demónios do ódio racista. Situação que se agravava à medida que os atentados (provocados pela OAS e pela FLN) se multiplicavam e que a situação militar em terras argelinas se agudizava. Refiro, agora, a título de curiosidade, que cenas deste filme foram rodadas numa fábrica de automóveis na Argélia, pelo facto de empresas francesas similares terem fechado as suas portas à produção. E que a exibição desta película foi proibida nas salas de cinema francesas durante 4 anos. O que não deixa de ser curioso, num país com arreigadas tradições democráticas. Colorido e com uma duração de 105 minutos, este filme da Port Royal Films/O.N.C.I.C. teve, nos principais papéis, os actores Marie-José Nat, Mohamed Chouikh, Bernadette Lafont, Jean-Pierre Bisson, Catherine Allégret, Jean-Louis Comolli e Alice Reichen. O videograma desta fita (que eu só pude ver na televisão) está disponível em França, sem legendas em língua portuguesa.
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