domingo, 30 de maio de 2010

OS FILMES QUE EU VI (OU REVI) ESTA SEMANA :


«LUA NOVA» (sala)

Confesso não perceber porque razão é que esta coisa constituiu um sucesso de bilheteira de dimensão universal. Ao mesmo tempo que reconheço ter bocejado várias vezes durante a projecção desta fita, que conta o tormento de uma flausina que, até ao última quarto de hora do desfecho desta autêntica chachada ainda não sabe se o seu coração vai aceitar o namoro de um vampiro ou o de um lobisomem. Mais, jurei a mim próprio ser mais criterioso (se puder...) nos filmes que ainda verei. É que eu já tenho 65 anos de idade e o tempo que me resta terá de ser passado de maneira mais inteligente. Veremos se consigo cumprir a promessa. De qualquer modo, esta coisa inspirou-me um desabafo : Ah ! que saudades eu tenho dos filmes fantásticos de há cinco/seis décadas atrás, quando o cinema nos propunha películas da qualidade de «The Ghost and Mrs Muir» (1947), «La Beauté du Diable» (1950) ou «The Mask of the Red Death» (1964).


«VIAGEM EM ITÁLIA» (dvd)

A crítica reconhece, unanimamente, que esta é uma das películas-chave da obra de Roberto Rossellini. Protagonizada por George Sanders e por Ingrid Bergman, «Viagem em Itália» conta-nos a história de um casal de burgueses originário de Inglaterra, que passa uns curtos dias na região de Nápoles, para tentar vender uma mansão recebida em herança. Após sete anos de união, (que se adivinha periclitante) o casal encara a possibilidade de divorciar. Mas um incidente, aparentemente banal, ocorrido durante uma procissão, vai aproximar esses dois entes com o coração à deriva e incentivá-los a construir uma nova e mais terna relação... O dvd, com cópia deste filme, que eu visionei (e apreciei) faz parte de uma colecção de clássicos do cinema mundial oferecida pelo jornal «Público» aos seus leitores.


«A DUQUESA» (tv)

Este recente e luxuoso filme de Saul Dibb conta-nos o que terá sido a vida -íntima e pública- de Georgiana Spencer, esposa de William Cavendish, quinto duque de Devonshire. Gostei bastante da requintada reconstituição da época (século XVIII), que surpreende, entre outras coisas, pela magnificência do guarda roupa; que foi, como é sabido, recompensado com um óscar. Também apreciei a interpretação dos actores principais : Ralph Fiennes, Keira Knightley, Charlotte Rampling, etc, com particular destaque para o primeiro, que interpreta, nesta película, o papel de um marido que se sente esbulhado, por ter contraído matrimónio com uma mulher bonita e inteligente, mas incapaz de lhe dar um herdeiro do sexo masculino. Este filme é também revelador de quão longo e difícil foi -par as mulheres- percorrer o caminho que as conduziu de um estatuto de inferioridade e de dependência até à emancipação, que conquistaram já no decorrer do século XX. Passando, progressivamente, da situação de simples conceptoras de filhos e/ou objectos decorativos a seres humanos de pleno direito. Penso que sendo a duquesa de Devonshire uma ascendente de Diana Spencer (a famosa Lady Di) o filme também quis estabelecer um paralelo entre o destino de duas mulheres unanimamente amadas, salvo pelos maridos… Enfim, eu gostei deste filme, que aparece na esteira de outros êxitos com fundo histórico e que conferem ao cinema britânico dos nossos dias um reconhecido cunho de qualidade.


«O HOMEM QUE QUERIA SER REI» (dvd)

Realizado em 1988 por John Huston, com base num livro homónimo de Rudyard Kipling, «O Homem que Queria Ser Rei» é um excelente filme de aventuras exóticas, protagonizado por Sean Connery, Michael Caine e Cristopher Plummer. Conta-nos a história de dois ex-sargentos do exército colonial britânico que, depois de desmobilizados e de terem levado uma vida de deambulações pela Índia de finais do século XIX, decidem viajar até uma longínqua e recôndita região dos Himalaias. Com o confessado intuito de ali conquistarem -valendo-se da sua experiência militar- o estatuto de senhores feudais. Este filme de grande qualidade técnica e interpretativa é uma delícia, proporcionando àqueles que o vêem pela primeira vez, ou aos outros que (como eu) já o visionaram em várias ocasiões, 130 minutos de puro prazer. A cópia videográfico de «O Homem que Queria Ser Rei» já está à venda, há algum tempo, no nosso país. O meu dvd (que também tem legendagem em língua portuguesa) foi adquirido em Espanha; onde este material cultural custa, regra geral, metade do preço praticado em Portugal. Vá lá saber-se porquê...


«A ÚLTIMA CANÇÃO» (tv)

Programado pelo canal Hollywood, este já velhinho filme de Clint Eastwood (1982) foi um fiasco comercial total nos Estados Unidos. É que as pessoas nunca aceitaram ver o duro e invencível herói a que estavam habituados, na pele de um ‘looser’; na pele de um guitarrista de aspecto descuidado, pilha-galinhas, alcoólico e tuberculoso. O guião de «Honky Tonk Man» (t.o.) foi colhido nas páginas de um romance de Clancy Carlile e a rodagem da película foi financiada pela Malpaso, a produtora de Eastwood. Conta-nos a história de Rod Stovall, um músico de ‘country’ que nutre o sonho de se apresentar e de triunfar na mais emblemática sala de espectáculos de Nashville. A acção decorre durante a Grande Depressão e o filme é transversalmente atravessado pelo drama que essa megacrise económica impôs aos norte-americanos; sobretudo aos rurais do Oklahoma, que, para além do mau momento económico que os arruinou, também foram afectados por calamidades naturais -secas, tornados- até então sem precedentes, que pauperizaram as suas terras de cultura, o seu ganha-pão. Confesso que gosto deste filme, que já vira, mas há muitos anos, na sua versão dobrada em francês.


«AS IRMÃS DE MARIA MADALENA» (dvd)

Filme que vale, essencialmente, pelo testemunho (emocionante) que nos deixa sobre um drama de marcou a história recente da Irlanda. Drama pouco divulgado, que tem a ver com as 30 000 vítimas da irmandade das Irmãs de Maria Madalena, uma instituição ligada à igreja católica que, naquele país atentou (do século XIX até 1996, data da sua extinção), contra a vida e contra a dignidade de 30 000 mulheres. Que foram escravizadas, abusadas (algumas delas até sexualmente) e vexadas por terem cometido o ‘crime’ de terem sido violadas, de serem mães solteiras, de serem demasiado bonidas e provocadoras, de serem simples de espírito, etc. Este filme, realizado em 2002 por Peter Mullan, foi aclamado no Festival de Cinema de Veneza, onde nesse mesmo ano ganhou o cobiçado Leão de Ouro. Se tivesse que o adjectivar três vezes, diria que «As Irmãs de Maria Madalena» é um filme sóbrio, comovente e verídico.


«UM CIDADÃO EXEMPLAR» (sala)

Cenas de violência exacerbada e perfeitamente desnecessárias marcam esta fita realizada por F. Gary Gray em 2009; à qual não sabemos, francamente, atribuir um género : ‘thriller’ ou filme de terror ? –A trama tece-se em volta do forte desejo de vingança de um homem que, aquando de um assalto a sua casa, assistiu, impotente, ao assassínio da sua esposa e da sua filha. E como o sistema falhou, permitindo a um dos criminosos escapar à pena capital esperada, a vítima sobrevivente decide fazer justiça pelas suas próprias mãos, recorrendo aos métodos sofisticados que a sua condição de ex-agente secreto lhe ensinaram. Não gostei. «Um Cidadão Exemplar» tem um título enganador, que abusa da boa fé dos incautos. Sinto-me defraudado nas minhas expectativas e isto apesar das boas interpretações dos actores que constituem o elenco deste filme. Viu-o (incomodado, confesso) no Cine-Teatro de Nisa.

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