domingo, 16 de maio de 2010

O JUIZ JULGADO


Baltasar Garzón -o mais popular e corajoso de todos os juízes de Espanha- foi (na passada sexta-feira) demitido das suas funções pelos seus pares do Conselho Geral do Poder Judicial. Essencialmente (e tudo o resto é conversa…) por ter ousado afrontar os nostálgicos do franquismo e as organizações de carácter fascista que sobreviveram ao caudilho. Isto, com a mesma dignidade e a mesma coragem, com que já fizera face -durante mais de 20 anos- à ETA, ao ditador chileno Pinochet e aos corruptos do país vizinho. A decisão do C.G.P.J. fundamentou-se numa lei geral de amnistia votada pelas Cortes em 1977; lei que o juiz Garzón ignorou, talvez inspirado no que diz o Comité dos Direitos Humanos da O.N.U., que já pediu a Espanha para a anular e para garantir «o carácter imprescritível dos crimes de lesa-humanidade » (…), já que esses delitos «não podem prescrever nem ser amnistiados». Recorde-se que fontes fidedignas apontam para 113 000 o número de desaparecidos da guerra civil e durante o consulado do general Franco, que se prolongou de 1939 a 1975. Aquando do julgamento do juiz sem medo, manifestantes brandiram dísticos onde exprimiam os seus sentimentos e a sua preocupação perante o que estava a acontecer. Alguns deles reclamavam a abertura de um processo sobre os crimes de guerra. Outra dizia isto : «A Espanha está virada do avesso; os corruptos e os fascistas julgam o juiz».

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