segunda-feira, 17 de maio de 2010

OS FILMES QUE EU VI (OU REVI) ESTA SEMANA :


«O CANTO DOS PARDAIS» (tv)

Magnífico filme iraniano, que nos conta a história de um homem simples face às adversidades da vida. Que, para Karim, a personagem principal desta premiada fita de Majid Majidi, començam a desenhar-se com a perda do emprego numa quinta onde ele cuidava de avestruzes e com a avaria irreparável do aparelho auditivo da sua filha mais velha, que é urgente substituir. Compelido a procurar trabalho em Teerão, onde consegue ganhar uns tostões fazendo fretes com uma moto-táxi, Karim acaba -na sequência de um acidente, que o imobiliza em sua casa- por descobrir que o amor da sua família, o respeito dos seus vizinhos e amigos e a serenidade que lhe proporciona o seu rincão campestre valem mais do que todo o dinheiro que ele ambicionou ganhar na cidade grande. Actores certinhos na interpretação de papéis de gente solidária e com sentimentos. Creio que «O Canto dos Pardais» foi o primeiro filme persa que eu vi. E gostei tanto, que agora sinto o desejo de não falhar a programação de nehuma outra obra cinematográfica iraniana que a nossa tv nos queira oferecer futuramente, no intervalo das americanices de tiros e perseguições, sem qualidade que se vislumbre.


«UMA HISTÓRIA DE BONDADE» (tv)

Confesso que estava pouco familiarizado com o cinema israelita antes de ver, nestas últimas semanas, «Lemon Tree» e «The Syrian Bride» (ambos de Erin Riklis), que adorei. Como, aliás, já aqui disse. Esta semana não falhei a oportunidade de descobrir um outro cineasta da mesma nacionalidade -Ayelet Menahemi- que realizou esta comédia dramática (é com esta expressão que os Franceses designam este género de filmes) que, anodinamente, se intitula «Uma História de Bondade». E confesso que, uma vez mais, fiquei deslumbrado com a originalidade temática do cinema judaico e com a justeza e a vida dada pelos seus actores a personagens tão humanas como aquelas que povoam esta bela e forte história de solidariedade humana. Menahemi conta-nos aqui os precalços causados a Miri (viúva de guerra e hospedeira da El Al) pela expulsão rápida e compulsiva do território israelita da sua empregada doméstica, uma emigrante chinesa sem papéis, que involuntariamente deixou, em sua casa, o filho menor; uma criança incapaz de comunicar verbalmente com a família de Miri, por só falar mandarim. A este drama, que a heroina da fita vai resolver de maneira pouco ortodoxa, vêem juntar-se os problemas causados pela sua irmã e pelo seu cunhado, que vivem uma separação dolorosa… Perante a qualidade desta película, só me ocorre gritar : Bravo !!!


«RETURN OF THE OUTLAWS» * (dvd)

Este é (penso eu) um daqueles filmes rodados a pensar, em exclusividade, na edição DVD e que nunca chegou sequer a estrear nas salas de cinema. E ainda bem, já que a história é confusa e a película -que nos conta uma corriqueira história de vingança e de assalto (improvável) às reservas de ouro guardadas num forte do faroeste- é tecnicamente imperfeita. A interpretação dos actores contratados para fazer esta ‘coisa’, que é a vergonha do cinema western, é simplesmente lastimável. Resultado : 1 ½ hora de tempo perdido e um grande rancor contra a gente que tem a ousadia de colocar nulidades deste calibre no nosso mercado videográfico.



«O MASSACRE DOS DRAGÕES» (dvd.gr)

O título não tem, naturalmente, nada a ver com os dissabores desportivos do F.C.Porto, já que se trata da designação atribuída no nosso país a um western que por aqui foi exibido no longínquo ano de 1957; e que, na origem, se chamou «Dragoon Wells Massacre». É uma simpática fita (e nada mais do que isso) de série B, produzida pela companhia United Artists, que nos conta a perseguição movida pelos Apaches a um grupo de brancos que ousara violar território dos pele-vermelhas. História banalíssima, pois, proposta aos amadores de um género que fizera a glória de Hollywood, mas que se encontrava, então, na sua fase de decadência. Para mim, foi apenas a oportunidade de ver mais uma vez em acção um dos actores mais interessantes da época de ouro dos estúdios californianos : o secundário Jack Elam. Que aqui, contrariamente à tradição -já que sempre interpretou papéis de pessoas preversas, pouco recomendáveis- até foi utilizado pela produção na encarnação de um ex-prisioneiro de direito comum, mais preocupado em proteger uma criança indefesa do que em salvar a sua própria pele.


«THE NEVADAN» * (dvd.gr)

Western de Gordon Douglas, um cineasta de segunda linha que tem, apesar desse seu estatuto, algumas boas fitas na sua filmografia. Não é infelizmente o caso de «The Nevadan», que é uma película sem o mínimo interesse. Conta a história de um agente da polícia federal que tem por missão recuperar o dinheiro proveniente de um frutuoso assalto a uma instituição bancária. O papel principal foi entregue a Randolph Scott, que foi uma referência do cinema dito de cowboys. E que marcou -com filmes de muito melhor qualidade- a saga do western.


«TERRAS SOMBRIAS» (dvd.gr)

Esta relíquia, também ela ambientada no Faroeste do século XIX, foi dirigida (em 1948) por Ray Enright, um prolífico realizador de séries B. «Terras Sombrias» foi, sem dúvida, o melhor dos quatro filmes do género que eu tive a ocasião de visionar esta semana. O entrecho (que conta a história de um homem que vive para vingar o assassínio da sua noiva ) é bastante original e a fita é servida por um Randolph Scott no melhor da sua forma. O ‘homem da face de granito’ contracena aqui com um lote de bons profissionais -Edgar Buchanan e Forrest Tucker, entre outros- que valorizam esta película produzida (a cores) pelos estúdios Columbia. Três estrelas.


«A TIME FOR DYING» * (dvd.gr)

Creio que esta fita, datada de 1971, nunca chegou a estrear comercialmente no nosso país. Tem realização de Budd Boetticher -um dos grandes nomes do cinema western- e conta-nos a história trágica de Cass Bunning, um aprendiz de pistoleiro. «A Time for Dying» tem a particularidade de ser o último filme com participação de Audie Murphy (que aqui representa o papel do famoso foragido Jesse James) e de ser, também, o derradeiro western dirigido pelo supracitado Boetticher. Que é, diga-se de passagem, um dos meus fazedores de ‘coboiadas’ preferidos. A verdade, porém, é que esta fita está, qualitativamente, muito aquém daquilo que Boetticher fez de melhor : «Emboscada Fatal», «Sete Homens para Matar», «Entardecer Sangrento» ou «O Homem que Luta Só».


«FOXFIRE» * (dvd.gr)

Esta raridade tem realização de Joseph Pevney, que lançou «Foxfire» -por conta dos estúdios Universal- no já longínquo ano de 1955. O filme aposta no encontro entre duas bem cotadas estrelas da época : a belíssima e sensual Jane Russell e o atlético Jeff Chandler, que conquistara a celebridade no papel de um famoso caudilho apache; papel que ele desempenhou, sucessivamente, nas películas «A Flecha Quebrada» e «Cochise». Como nas fitas citadas, o drama do racismo é também uma constante da história contada por «Foxfire» : a de uma novaiorquina da alta sociedade, que se apaixona perdidamente por um sujeito mestiço, engenheiro numa mina do Arizona. Apesar das boas intenções do realizador e dos esforços da guionista (Ketti Frings), que se inspirou numa novela de sucesso da autoria de Anya Seton, o filme não alcançou o êxito esperado. A interpretação do par vedeta é frouxa e até nos pareceu muito pouco convincente. Já a terceira figura do ‘casting’, o actor Dan Duryea, esteve mais feliz ao colocar-se com algum ‘savoir-faire’ na pele de um médico beberrão e cínico. Apreciei a fotografia, em explêndido technicolor, que valoriza as paisagens captadas pela câmera de William Daniels. Gostei, igualmente, de descobrir esta fita, dispensando-me, no entanto, da tarefa de distribuir imerecidas estrelas.

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