segunda-feira, 7 de novembro de 2011

OS FILMES DA MINHA VIDA (85)


«A ÚLTIMA CAÇADA»

FICHA TÉCNICA
Título original : «The Last Hunt»
Origem : E. U. A.
Género : Western
Realização : Richard Brooks
Ano de estreia : 1956
Guião : Richard Brooks
Fotografia (c) : Russell Harian
Música : Daniel Anfitheatrof
Montagem : Ben Lewis
Produção : Dore Schary
Distribuição : Metro Goldwyn-Mayer
Duração : 99 minutos

FICHA ARTÍSTICA
Robert Taylor ……………………………….. Charlie Gilson
Stewart Granger ………………………….. Sandy McKenzie
Lloyd Nolan …………………………………….. Woodfoot
Debra Paget ……………………………………. a índia
Russ Tamblyn ………………………………….. Jimmy
Constance Ford ………………………………. Peg
Joe de Santis ……………………………….... Ed Black
Ainslie Pryor ……………………………….….. um caçador de bisontes
Fred Graham …………………………………… o barman
Ralph Moody ……………………………………. o agente do governo

SINOPSE
Após o seu encontro fortuito numa pradaria do território do Dacota, Sandy McKenzie e Charlie Gibson decidem associar-se num negócio de caça aos bisontes. O primeiro, porque necessita sair rapidamente de uma situação financeira crítica, provocada pelo extermínio acidental da sua manada de bovinos, e o segundo –que não tardará revelar-se um ser cruel e doentiamente racista- para satisfazer o seu abominável prazer de destruir a própria fonte de vida dos pele-vermelhas da região.
Incapaz de suster as criminosas pulsões de Gilson –que trata da mesma horrível maneira as pessoas e os animais- Sandy vai-se afastando, pouco a pouco, do seu companheiro de negócios e de aventuras. A ruptura é definitivamente consumada, quando aquele brutaliza uma jovem e bonita índia, capturada na sequência de um confronto sangrento entre caçadores de bisontes e um grupo de autóctones.
Depois de uma troca de tiros com o seu sócio e rival, interrompida por um brusco e intenso nevão, Charlie Gilson acaba por ter o fim que merece, morrendo gelado nas dobras da pele de um mítico bisonte branco –divinizado pelos pele-vermelhas- que ele abatera na véspera contra a vontade expressa de Sandy. Este e a moça índia empreendem, desde logo, uma longa caminhada, que os afastará daquela terra empapada de sangue e de ódio. Para tentarem viver, juntos, a empolgante aventura do amor…

O MEU COMENTÁRIO
Quando esta película de Richard Brooks (que tem por base um emocionante romance de Milton Lott) estreou em 1956, só alguns críticos e os cinéfilos culturalmente mais evoluídos lhe não regatearam aplausos. Isto, por verem nela algo algo de original e de extremamente corajoso. Original, por «A Última Caçada» ser uma das primeiras fitas do cinema western a mostrar a importância –tanto económica, como religiosa- que o bisonte teve na vida dos ameríndios. Corajosa, por aludir, cruamente e sem equívocos, ao morticínio daqueles majestosos ruminantes da América do norte, facto que iria precipitar o fim (programado pelas autoridades de Washington daquele tempo) do singular modo de existências das tribos nómadas da chamada Grande Pradaria : Sioux, Cheyennes, Arapahos, Comanches e Blackfeet, para citar apenas algumas das mais conhecidas dessas comunidades autóctones.
Não obstante essas suas reais qualidades, o filme de Brooks foi um enorme fiasco financeiro para a M. G. M., que desejava, com esta obra, repetir o êxito comercial de «All the Brothers Were Valiant», um filme de aventuras marítimo-sentimentais produzido na temporada precedente, com a ajuda do realizador Richard Thorpe e dos mesmíssimos actores Taylor e Granger.
Disse-se e escreveu-se (no momento da sua estreia), que as razões do insucesso de «A Última Caçada» tiveram muito a ver com o facto do público não ter apreciado que a produção tivesse ousado distribuir a Robert Taylor –um dos meninos bonitos da firma do Leão- o papel do mau da fita e tivesse, igualmente, frustrado os espectadores de um ajuste de contas final e mais em conformidade com as tradições do western.
A verdade revelou-se, porém, muito mais triste, já que tudo deixa crer que o público norte-americano não estava, então, psicologicamente maduro para assumir a responsabilidade moral do grande crime ecológico que constituiu o extermínio dos bisontes (16 milhões de animais dizimados em menos de uma década), nem o horrendo genocídio dos ameríndios que lhe está associado (centenas de milhar de mortos durante o avanço dos colonos brancos para as cobiçadas terras do Oeste), factos implicitamente denunciados nesta película de Brooks.
Na verdade, foi isso, mais do que tudo o resto, que indispôs e atemorizou –nessa América dos anos 50- os habituais frequentadores das salas obscuras e parte dos críticos cinematográficos. É bom não esquecer que os E.U.A. desse tempo estavam minados pela suspeição, pela intolerância e pelo fanatismo, semeados por um certo Joseph McCarthy, senador republicano do Wisconsin e inquisidor-mor da famigerada Comissão das Actividades Anti-Americanas.
De qualquer modo, o filme «A Última Caçada» é, hoje, unanimamente reconhecido como um exemplo do bom cinema hollywoodiano dos anos 50 : um cinema que também podia ser corajoso, lúcido, generoso, moral. Desta película disse, muito acertadamente, André Moreau (crítico da prestigiosa revista francesa «Télérama») o seguinte : «este filme de Richard Brooks é, sem dúvida, o filme mais justo e mais emocionante que Hollywood consagrou à problemática índia». Opinião que eu partilho inteiramente.
O estrondoso (e imerecido) fracasso comercial deste primeiro western de Brooks, cineasta que, como é sabido, brilhou noutros géneros cinematográficos, obrigou-o a abster-se de abordar, de imediato –como ele teria desejado- o género «mais genuíno do cinema americano». O grande cineasta só voltaria a percorrer os trilhos poeirentos do Far West em 1966, para dirigir a prestigiosa equipa de protagonistas de «Os Profissionais», fita produzida para a Columbia Pictures.
Lembro, para terminar estas linhas e a título de mera curiosidade, que este magnífico western que é «A Última Caçada» estreou no nosso país a 18 de Julho de 1956, no cinema Império, de Lisboa. E que, apesar da sua indesmentível qualidade, este filme ainda não encontrou –em Portugal- um editor videográfico que o traga à memória dos cinéfilos lusos. É de perguntar : porque razão ?

(M.M.S.)


Apesar do insucesso desta fita de Richard Brooks nos E.U.A., a revista «Dell» não deixou de publicar a sua novelização


Emboscados na floresta, os caçadores de bisontes disparam armas de caça grossa contra as desprevenidas manadas de ruminantes


Este foi um dos cartazes que promoveram o filme em França. Contrariamente ao que aconteceu nos 'states', «A Última Caçada» obteve um grande sucesso neste país; onde esta fita de Brooks foi louvada pela crítica e recebeu os aplausos do público


Charlie Gilson (Robert Taylor, à direita) olha, com visível desprezo, para o mestiço Jimmy (Russ Tamblyn, ao centro) e para um pele-vermelha (Ed Lonehill, à esquerda)


Durante uma interrupção das filmagens de «A Última Caçada», Debra Paget e Stewart Granger admiram uma arma de caça que lhes é apresentada por Robert Taylor


Cartaz italiano


A índia capturada (Debra Paget) permanece indiferente -depois de violentada- ao assédio de Charlie Gilson (Robert Taylor)


Capa do DVD editado num país de língua inglesa


Mais um cartaz original


Momento de intimidade entre a índia (Paget), que prepara uma refeição para os caçadores de bisontes, e Sandy (Granger)


Cartaz espanhol


A moça índia (Debra Paget - sem nome no filme) troca um olhar triste e discreto com Sandy McKenzie (Stewart Granger) perante a pele do bisonte branco abatido por Charlie (Taylor)


Outro cartaz norte-americano



A índia (Debra Paget) e o ex-caçador de bisontes Sandy McKenzie (Stewart Granger) venceram o ódio personificado por um ser brutal chamado Charlie Gilson (Taylor) e, depois da sua miserável morte provocada pelas forças da Natureza, preparam-se para viver a grande aventura do amor...

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