sábado, 26 de novembro de 2011

«FADO MARAVILHAS»


Fui num domingo a Cacilhas
Mais o Chico Maravilhas
Comer uma caldeirada.
A gente não nada em taco
Mas vai dando pró tabaco
E para regar a salada.
É porque isto é mesmo assim
A gente morre e o pilim
Não vai para a cova com a gente
E antes gastá-lo no tacho
Do que na farmácia, eu acho
Isto é que é principalmente.
Terminada a refeição
Ao entrar na embarcação
Começou a grande espiga
Um mangas abriu o bico
Pôs-se a mandar vir com o Chico
E o Chico arriou a giga.
Eu para acalmar a tormenta
Ainda disse oh Chico 'auguenta'
Mas o mangas insistiu
E o Chico sem intenção
Deu-lhe um ligeiro encontrão
Atirou com o tipo ao rio.

Um sócio de outro meco
Quis-se armar em malandreco
A gente já estava quentes
Veio para mim desnorteado
Eu dei-lhe com penteado
E pu-lo a cuspir os dentes.
Veio outro, veio outra ideia
De sarnelha e plateia
Mais outro fui-lhe ao focinho
E o Chico pelo seu lado
Só para não ficar parado
Aviou quatro sozinho.
Fez-se uma grande molhada
Desatou tudo à estalada
Eu e o Chico no centro
Daquela calamidade
Apareceu a autoridade
E meteu-nos todos dentro.
Não tenho vida para isto
E de futuro desisto
De me meter noutra alhada
Nunca mais vou a Cacilhas
Mais o Chico Maravilhas
Comer uma caldeirada!

*O saudoso Raúl Solnado -que não era propriamente um fadista- provou com esta rábula chamada «Fado Maravilhas», que a mais típica canção de Lisboa, não foi, nem é, forçosa e fatalmente, mensageira de desgraças e de tristeza*

**Homenagem ao fado -que está em vias de ser classificado, pela UNESCO, Património Imaterial da Humanidade, e a todos aqueles que o amam e defendem**

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