terça-feira, 8 de novembro de 2011
A BATALHA DE VALVERDE : MEADOS DE OUTUBRO DE 1385
Apenas dois meses depois da vitória decisiva de Aljubarrota, o condestável D. Nuno Álvares Pereira resolveu entrar em território espanhol com um exército quase todo ele recrutado no Alto Alentejo, sobretudo nos termos de Évora, Elvas e Estremoz. Eram, no dizer de fidedignas fontes, um milhar de lanças e 2 000 peões e besteiros. O grande estratego guiava, ele próprio, a vanguarda das tropas e levava como ajudante de campo o alferes Diogo Gil, que empunhava a bandeira. A rectaguarda era chefiada por D. Álvaro Gonçalves Camelo, prior do Hospital, enquanto os comandos das alas esquerda e direita foram confiadas, respectivamente, a Martim Afonso de Melo, um fidalgo das Beiras, e a Gonçalo Anes, de Castelo e Vide. A tropa atravessou o Guadiana a vau, nas imediações de Badajoz, e seguiu um percurso que passou, sem incidentes, por Almendral, Parra, Zafra, Fuente del Maestre, Villagarcia e Magacela até chegar ao campo de batalha; que se situou no sítio onde convergem o rio Guadiana e o Matachel, um dos seus afluentes.
Em Villagarcia estabeleceu-se o primeiro contacto oficial entre adversários, quando D.Nuno recebeu um arauto castelhano que, em nome dos fidalgos que iriam dar batalha aos Portugueses, lhe entregou, respeitosamente, um molho de varas, simbolizando cada uma delas, a espada do grão-mestre da ordem de Santiago, do mestre de Calatrava, do conde de Niebla, do conde de Medina Coeli, dos senhores de Manchena e de Aguilar e de vários outros potentados, entre os quais se achava o representante da poderosa Casa dos Vinte e Quatro, de Sevilha. O jovem condestável do Mestre de Avis mandou recompensar o arauto com 100 dobras e, mostrando-lhe o molho de varas recebidas, pediu-lhe para transmitir aos senhores de Castela o seguinte recado : «dizei ao mestre (de Santiago), meu senhor e amigo, e aos senhores que com ele estão, quanto lhes agradeço os desafios e as varas... com as quais em breve terei o gosto de os zurzir».
A batalha começou de maneira desfavorável às tropas do condestável (formadas em quadrado), que quase se deixaram avassalar pelo número muitíssimo superior de inimigos. Mas movido pela sua inquebrantável fé na vitória (que ele acreditava ser de inspiração divina) e pela sua fama de guerreiro inatingível, D. Nuno conseguiu -como noutras ocasiões- galvanizar os seus combatentes e levar de vencida as numerosas hostes de Castela; que começaram a retirar do campo de batalha logo após a morte (e decapitação) do mais ilustre dos seus capitães : D. Pedro Muñoz, o grão-mestre dos cavaleiros de Santiago.
Após a debandada dos seus adversários, D. Nuno Álvares Pereira regressou com as suas hostes vitoriosas a Portugal, sem que, pelo caminho, lhe fosse levantado o mínimo obstáculo. A sua campanha em território castelhano durara uns escassos 18 dias e servira, apenas, para dissuadir o inimigo de tentar novas aventuras em terras lusas
O condestável do Mestre de Avis foi uma figura ímpar de guerreiro ibérico do século XIV
Uma das muitas estátuas erigidas em Portugal à glória do condestável de el-rei D. João I, o da Boa Memória
Brasão de armas actual da vila de Valverde de Mérida, perto da qual se feriu a batalha ganha por D. Nuno Álvares no dia 15 de Outubro de 1385; ou no dia seguinte, no parecer de certos historiadores. Enquanto elemento principal do emblema municipal, figura a Cruz de Santiago, ordem religiosa-militar cujo grão-mestre -D. Pedro Muñoz- participou activamente na batalha e foi morto pelas tropas do condestável de Portugal
Vista de uma rua da actual Valverde de Mérida, vila da vizinha Extremadura. Esta localidade conta, actualmente, cerca de 1200 habitantes e vive, predominantemente, da agricultura e seus derivados
Foi nas imediações deste lugar, onde, placidamente, passam as águas do rio Guadiana, que se travou a batalha de Valverde. É pena que aqui nada assinale esse evento. É claro que não se trata de pedir aos espanhóis que lá levantem um monumento a uma das suas derrotas militares. Mas uma simples placa comemorativa de um acontecimento histórico desta natureza (onde foram ceifadas muitas dezenas de vítimas) seria de molde a despertar o interesse do turismo transfronteiço, com o qual todos teríamos (espanhóis e portugueses) muito a ganhar. Principalmente a economia de Valverde de Mérida e região
Armas utilizadas em Valverde e noutras batalhas campais do tempo
Bonito painel de azulejos no qual estão referenciadas as três principais vitórias de D. Nuno Álvares Pereira contra as hostes de Castela
A sobrevivência de Portugal no século XIV muito ficou a dever às capacidades militares de D. Nuno Álvares Pereira, o futuro São Nuno de Santa Maria; que venceu as hostes castelhanas -sempre superiores em número- em todas as batalhas e recontros em que participou : Atoleiros, Aljubarrota, Valverde...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário