sábado, 21 de maio de 2011

O 'KEELBOAT' DOS RIOS NORTE-AMERICANOS



Popularizada pelos westerns de produção hollywoodesca, esta embarcação de madeira estava adaptada para a navegação à vela, a remos, à vara e ‘à la cordelle’. Era, geralmente, de dimensões modestas, construída em madeira e com o fundo chato. Dispunha de um pequeno mastro à proa, que podia arvorar uma primitiva vela de pendão; o seu leme (accionado por um único homem) era de grandes dimensões e exigia muita força física e alguma perícia. O seu habitáculo, situado a meia nau, ocupava cerca de 2/3 do convés, deixando, no entanto, passarelas laterais, para facilitar a tarefa dos tripulantes que empunhavam as varas, quando a falta de vento se fazia sentir ou era necessário navegar a contra-corrente. Para defesa da barca e do seu carregamento e para protecção da sua equipagem, o ‘keelboat’ estava, por vezes, armado com uma pequena peça de artilharia. Geralmente mais ruidosa do que mortífera, mas, ainda assim, eficaz para afrontar a pirataria fluvial e espantar os pele-vermelhas. Devido ao seu fraco calado –menos de 1 metro- esta embarcação podia navegar em rios pouco caudalosos ou com pouca água devido à estiagem. A sua tripulação era variável, podendo atingir uma vintena de homens. O ‘keelboat’ foi utilizado por comerciantes itenerantes, traficantes de peles (sobretudo durante a grande época da caça aos castores), por exploradores e por aventureiros de toda a espécie. Navegou em praticamente todos os rios (grandes e pequenos) do Oeste (mas não só) e muito em particular nos cursos de água da vasta bacia do Mississippi-Missouri. Como se disse acima, foi o cinema norte-americano que revelou esta modesta (mas preciosa embarcação) aos europeus. Vou lembrar aqui (de maneira breve e não exaustiva) algumas fitas em que o ‘keelboat’ é mostrado e nas quais, esta barca tem, por vezes, um papel importante.
Começo pelo inolvidável filme «Céu Aberto» («The Big Sky», Howard Hawks, 1952), no qual um ‘keelboat’ baptizado «Mandan» sobe o curso do Missouri, até ao território dos índios Blackfeet, onde os seus aventurosos ocupantes pensam fazer bons negócios graças a uma insólita (e bonita) moeda de troca : uma princesa resgatada a uma tribo inimiga.



Acode-me, depois à memória, a frenética corrida entre ‘keelboats’ da fita «Davy Crockett e os Piratas» («Davy Crockett and the River Pirates», Norman Foster, 1956), uma produção dos estúdios de Walt Disney, que atraiu aos cinemas inúmeras crianças e adolescentes.



Recordo ainda (e isto sem respeito pela ordem cronológica) «Horizontes Desconhecidos» («The Far Horizons», Rudolph Mate, 1955), filme no qual uma embarcação deste tipo é utilizada pela expedição de Lewis e Clark nas suas deambulações pelos rios do Oeste.



Lembro que barcas deste tipo também são visíveis na superprodução «A Conquista do Oeste» («How the West Was Won», Hathaway/Marshall/Ford, 1962), sobretudo naquela parte consagrada aos rios.



Há, naturalmente, outras películas que evocam esta útil e típica embarcação. Mas, para não ser fastidioso, quero lembrar apenas só mais uma : a excelente fita «Um Homem na Solidão» («Man in the Wilderness», Richard Sarafian, 1971), na qual um ‘keelboat’ –que nunca vemos navegar- partilha o protagonismo com o seu capitão (John Huston) e com o quase imortal caçador de peles Zachary Bass (Richard Harris).



Enfim, está sumariamente contada a história dos ‘keelboat’. Qualquer dia vai apetecer-me, sem dúvida, evocar a história de outros barcos do século XIX, cuja popularidade também foi, em parte, assegurada pelo cinema de Hollywood. Como, por exemplo, os vapores de rodas do Mississippi e de outros grandes rios da América do norte. Até lá, faço minhas as palavras de um actor português há pouco desaparecido : façam o favor de ser felizes !

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