segunda-feira, 6 de setembro de 2010

QUEM SE LEMBRA DAS BIBLIOTECAS ITINERANTES DA GULBENKIAN ?


As bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian eram transportadas nestas características carrinhas de chapa ondulada e distribuiam cultura por todos os lugarejos (mesmo os mais recônditos) de Portugal. Isto num tempo -o da ditadura- em que apenas existiam, em todo o nosso país, 84 bibliotecas municipais, quase todas elas inadaptadas e inacessíveis à maioria da população rural


Esta ideia de levar o livro aos portugueses das zonas rurais, partiu de Branquinho da Fonseca, conhecido escritor e bibliotecário. Foi um sucesso popular : em 1962, já havia 47 bibliotecas ambulantes a circular pelo país, com 300 000 leitores assíduos e mais 3 milhões de livros emprestados. Esta prática entrou em decadência (embora não tenha morrido) depois da Revolução dos Cravos, que deu maior autonomia e mais meios aos municípios; que criaram mais bibliotecas e as suas próprias redes de acesso aos livros. Em inícios da última década do século XX já havia 170 bibliotecas municipais e o número das ambulantes baixou para 36. Hoje há mais de 300 bibliotecas camarárias. Número que não impede que continuem a circular carrinhas cheias de livros, destinados àqueles leitores de vilas e aldeias do interior que, devido à idade, à doença e outros impedimentos, estão afastados dos instrumentos de cultura, a começar pelos livros. Há até uma câmara (algarvia, se não estou em erro) que se aproveitou da ideia, para oferecer à população dos lugares mais afastados da sede de concelho um cinema móvel ! Bem haja quem teve essa rica ideia e quem se esforçou por pô-la em prática. Agora só falta que tal ideia prolifere pelo resto do páis e que a genial invenção dos irmãos Lumière penetre nas inúmeras terreolas (o termo não é pejorativo) onde a aguarda a curiosidade de muitos milhares de compatriotas nossos a quem esse previlégio tem sido negado


As carrinhas da Gulbenkiam eram, geralmente, veículos Citroen, do tipo H. O 'pai' deste popular veículo foi Pierre Franchiset, conceptor da marca francesa


O tipo H -um veículo «forte e feio», como costuma dizer-se- foi um dos maiores sucessos comerciais de sempre da Citroen. Foi construído entre 1948 e 1981, período durante o qual saíram das fábricas francesas da conhecida marca cerca de meio milhão de unidades. Foi utilizado, simultaneamente, como carro de polícia, furgão postal, ambulância, viatura de apoio às corporações de bombeiros, transporte de crianças (e não só), veículo comercial, auto-caravana, carro-oficina, carro funerário, suporte publicitário, etc, etc. E em Portugal foi o vector de um projecto cultural sem igual, cujos benefícios para a nossa população rural ainda estão hoje por avaliar em toda a sua dimensão; mas que, e isso todos nós o sabemos, foi e continua a ser extraordinário !

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