quinta-feira, 2 de setembro de 2010
O FORTE DE PENICHE
O outrora sinistro Forte de Peniche ergue-se numa falésia, junto ao mar. A área fortificada (que hoje ocupa quase 2 ha) tem a sua génese num castelo edificado, ao que parece, por volta do ano de 1557, quando D. João III ainda reinava em Portugal. Sofreu vários restauros e ampliações ao longo dos séculos, nomeadamente durante as Guerras da Restauração, aquando da ocupação da vila pelo exército napoleónico e durante o reinado de D. Miguel. Desempenhou funções militares até 1897. O forte foi utilizado como lugar de detenção para os Boeurs que se refungiaram em Moçambique, após a sua derrota diante das tropas britânicas da África do Sul; e, mais tarde, durante a Grande Guerra, foi prisão para nacionais da Alemanha e da Áustria...
Em 1930, a fortaleza foi transformada, pelo Estado Novo, em prisão política de segurança máxima, a fim de acolher todos aqueles que contestavam a legitimidade de Salazar e do seu governo de inspiração fascista. Por ali passaram inúmeros cidadãos (dos dois sexos), que sofreram inauditas torturas físicas, vexames de toda a ordem e cumpriram longas penas de prisão. Por delito de opinião. Na foto, em primeiro plano, pode ver-se um baluarte de forma circular, que foi utilizado para isolar os presos mais rebeldes. Foi daí que, numa noite gélida de Dezembro de 1954, se evadiu o quadro comunista Dias Lourenço (recentemente falecido), para grande espanto dos seus carcereiros; que consideravam a fuga do 'segredo' como impossível
Hoje, as sinistras celas dos presos políticos do Forte de Peniche podem ser visitadas pelo público. A entrada é gratuita e a visita é, no mínimo, bastante instrutiva sobre aquilo que foi a 'máquina de repressão' do salazarismo. Eu sei do que falo, porque tive a oportunidade de fazer essa visita há poucas semanas
Álvaro Cunhal -a mais carismática figura da resistência portuguesa ao regime de Salazar- esteve detido muitos anos na fortaleza de Peniche. Foi ali que, nas difíceis condições que se adivinham, ele executou os seus famosos 'Desenhos da Prisão' e colheu inspiração para a escrita de alguns dos livros que nos deixou; como, por exemplo, «Até Amanhã Camaradas»
(este retrato do líder do P. C. P. é da autoria do artista Xesko)
Em 3 de Janeiro de 1960, Cunhal e vários outros membros do Comitê Central do seu partido, foram os protagonistas de uma espectacular fuga do Forte de Peniche; que abalou o regime e constituíu uma derrota para a PIDE, a tenebrosa polícia política do Estado Novo
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O chamado Núcleo da Resistência é apenas uma das secções do rico Museu Municipal da cidade de Peniche. Que é composto, igualmente, por interessantes secções de arqueologia, história, etnografia, etc. O conjunto destes núcleos é visitado anualmente por mais de 40 000 pessoas.
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