sexta-feira, 25 de setembro de 2015

COISAS VIVIDAS

Uma das minhas antigas profissões e obrigações a ela ligadas, levaram-me, amiúde, a rumar ao norte da Europa (Escandinávia, Alemanha, Países-Baixos...) para ali ganhar a vida. Apesar dessas viagens implicarem alguns sacrifícios (como a momentânea perda de contacto físico com a família), foram, todas elas, inspiradoras e de grande importância na minha percepção do nosso mundo e no entendimento das gentes do nosso continente. Nada melhor para penetrar mentalidades e perceber hábitos, do que conviver, durante umas semanas ou alguns meses, com pessoas que, ao que se diz, são tão distintas dos meridionais que nós somos. Nada melhor para destruir mitos e/ou lendas sobre, por exemplo, a apregoada disciplina dos operários alemães (de gema), do que trabalhar com eles no mesmo espaço e vê-los, na ausência (momentânea ou demorada) das chefias, entregarem-se 'corajosamente' à prática do jogo da bola; até que, depois de um assobio de alerta, avisando da chegada iminente do capataz, os ditos operários modelo se apressam a regressar ao lugar de trabalho e à rigorosa labuta que os distingue de entre os demais. Nada melhor para perceber a fria seriedade de um sueco (ou de um norueguês), do que vê-lo, à quinta ou sexta-feira, fazer fila nos 'Monopolets', para se abastecer de álcoois e vê-lo, ao sábado, num lugar de diversão com a família, completamente 'encharcado' e sem saber de que terra é. Enfim, acaba-se, nessas ocasiões, por ficar a saber que aquela gente não é, no fundo, muito diferente da nossa... Gente que tem, indubitavelmente, outros costumes, mas que não é, na essência, melhor do que nós. Nós que, por vezes, também nos relaxamos no local de trabalho e que nunca deixamos de alinhar (era só o que nos faltava !) numas boas copaneiras. Finalmente o que nos distingue dessa gente das terras do frio, é eles viveram com mais direitos e com mais dinheiro nos bolsos. Porque, na terra deles, aqueles que estão comprometidos com a política não montaram esquemas de corrupção que, infalivelmente, os enriquece. Ao passo que por cá, os vampiros continuam a comer tudo e a não deixar nada.

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