sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A OUTRA 'ILHA DA MADEIRA'

O descomunal Convento de Mafra (ou Palácio Nacional de Mafra, como está hoje classificado na lista dos Monumentos Nacionais) levou 13 anos a construir : de 1717, ano de lançamento da primeira pedra, até 1730, ano de consagração da Basílica, votada ao culto de Nossa Senhora e de Santo António. Durante a realização deste imponente edifício (que, como é sabido, engoliu toneladas de ouro do Brasil e muitos outros recursos públicos), 45 000 operários e artífices foram utilizados nas obras; para além de 7 000 guardas, que -em nome d'el-rei D. João V- protegeram o estaleiro e por lá asseguraram a ordem. Toda essa gente se alojou num gigantesco acampamento, que, por ser essencialmente constituído por barracas de ripas e tábuas, recebeu o irónico nome de 'ilha da Madeira'. Diz-se que dessa 'ilha' faziam parte inúmeras casas de pasto, boticas, uma ermida (também ela construída em madeira), 8 enfermarias e um número indeterminado de cozinhas. Havia também abarracamentos específicos para os referidos guardas e estábulos para as quase 650 juntas de bois requisitadas para executar os trabalhos mais pesados. Segundo informações do tempo, os fornos de cal que prolongavam a 'ilha da Madeira', eram tão numerosos, que se estendiam quase até Cascais... Presumimos que, com o final do gigantesco estaleiro, toda a 'ilha' foi desaparecendo, pouco a pouco, e os obreiros regressaram às suas terras de origem. A não ser que, muitos deles, tenham procurado na capital novos empregos e novas perspectivas de vida...


Este é o retrato do perdulário rei D. João V; cuja recordação sobreviveu na memória do povo português como a de um gastador imoderado dos dinheiros públicos e como a de um verdadeiro predador sexual; que não hesitou em fazer filhos a inúmeras mulheres. Mesmo àquelas que viviam sob a 'protecção divina', atrás das espessas paredes dos conventos...

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