quinta-feira, 18 de abril de 2013

IMAGENS DE UM PORTUGAL DISTANTE

Com quase 70 anos de idade, posso-me gabar de ainda ter conhecido as velhas profissões que a iconografia incluída neste 'post' ilustra. E mais, de até ter conhecido as pessoas que as executaram ao longo da vida. Para ganhar o pão quotidiano e assegurar a sua sobrevivência e a dos seus. Lembro-me muito bem do amola-tesouras, calcorreando as calçadas de cidades, vilas e aldeias, tocando a sua característica gaita, à procura de um freguês, que lhe confiasse uma tesoura, uma faca, uma navalha para afiar ou um velho guarda-chuvas para reparar. E, quando tal acontecia, lembro-me de vê-lo partir, contente, por ter ganho uns magros tostões... Também me recordo das moças da seca do bacalhau (por ter morado perto de uma dessas desaparecidas indústrias), que procediam, diariamente, durante semanas e mais semanas, às tarefas de curar o (então) peixe dos pobres. O tal 'fiel amigo', com lugar cativo no prato dos portugueses humildes e sem condições para comer bife; ou frango, galináceo que, naquele tempo (anos 50 do passado século), era considerado uma iguaria para as populações citadinas. Além do seu trabalho rude, as moças da seca tinham um problema ligado ao cheiro intenso a peixe, que adquiriam no exercício da sua profissão. E que só desaparecia com o uso de muito sabão e de algumas gotas de «Tabú», que era o perfume mais barato da época. Quanto à cozinheira (retratada na imagem inferior), também me lembro dela. Devido às minhas origens rurais, eu visitava, de quando em vez, o Alentejo, região onde esta trabalhadora operava muito especialmente. Sobretudo aquando das ceifas (que, ao tempo, não se faziam de maneira mecânica) de Verão. Às cozinheiras cabia a responsabilidade de preparar as frugais refeições dos demais trabalhadores. O seu equipamento era dos mais rústicos : umas trempes, umas panelas de barro (ou de ferro) e muita lenha, que ela própria se encarregava de recolher durante a manhã. Vidas duras, muito duras, de tempos que já lá vão...

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