domingo, 14 de agosto de 2011

DESPESISMO E BOAS INTENÇÕES...


Tenho ouvido, com atenção, os discursos preocupados do senhor 1º Ministro e dos seus colaboradores sobre a necessidade de -todos nós- termos de fazer sacrifícios para pagar a 'nossa'(*) dívida pública, de modo a podermos voltar a ganhar a confiança daqueles que nos podem emprestar os milhões necessários para nos resgatarmos de décadas de má gestão e dos abusos cometidos (por vezes em proveito próprio) pelos precedentes governantes; que, curiosamente e depois da sua recente derrota eleitoral, desapareceram todos para parte incerta... E ouço-os falar (geralmente quando interpelados pelos jornalistas) da necessidade de cortar nas 'gorduras do Estado'. Ouço-os falar, mas não vejo nada de concreto. Antes pelo contrário, vejo que se procedeu à duplicação do número de gestores da C.G.D. e de outras empresas públicas; assisto (como no passado) à nomeação de centenas de 'boys'; vejo que os senhores ministros (alguns deles agora sem gravata, é certo) continuam a ter às suas ordens dezenas de veículos luxuosos e a não prescindir de privilégios, tais como uma legião de motoristas, assessores, guarda-costas, etc, etc. Ora, a continuar assim, talvez não cheguemos lá. Eu acho tudo isto chocante, porque vivi em França, numa cidadezinha que teve um presidente de câmara (depois vice-presidente) que chegou a ser 1º Ministro e, também Ministro da Saúde e Ministro das Finanças, que quando exercia uma dessas altas funções (num dos países mais ricos do mundo) e tinha de vir à tal cidadezinha -onde ele era edil e onde eu morei durante mais de 40 anos- se deslocava no seu veículo particular, sem 'chauffeur' e sem protectores. Posso até afirmar (sem receio de ser desmentido) que a última vez que o vi numa festa anual da cidade (Les Bakayades) onde, por força das circunstâncias, ele tinha de botar discurso, o homem chegou ao volante do seu Renault 5, desacompanhado e em mangas de camisa. Esse cavalheiro, sem peneiras (apesar dos prestigiosos cargos governamentais que exerceu), chama-se Laurent Fabius e ainda hoje exerce a função de vice-presidente da câmara de Grand Quevilly, na Alta Normandia.
Outra coisa (entre muitas mais) que, francamente me choca é o facto do Estado português gastar, anualmente, com a Presidência da República a soma faraminosa de 16 milhões de euros ! Ou seja, 163 vezes mais do que custava essa instituição no tempo do general Eanes. Será que o actual detentor desse cargo (quase honorífico) precisa mesmo de viver naquele palácio, rodeado de 12 assessores, de 24 consultores e de uma legião de lacaios (termo ao qual eu não atribuo conotações pejorativas) e de guardas ? -Sabem os Portugueses que esses tais 16 milhões de euros de despesa anual (números revelados pelo «Diário de Notícias» e nunca desmentidos) gastos pelo nosso presidente fazem dele o chefe de Estado europeu mais gastador, depois de Sarkozy e da rainha de Inglaterra ? -Sabem os nossos compatriotas que o nosso vizinho Juan Carlos I e a Casa Real de Espanha se contentam com metade da importância que gasta o Professor Doutor Cavaco Silva e a sua corte ? -Espero que o mais alto magistrado da nação, que aqui há umas semanas atrás disse que «os sacrifícios são para ser distribuídos por todos os portugueses» não se ofusque com o que aqui fica dito; e que exija, em nome da justiça para todos, que os seus emolumentos e privilégios, baixem para os níveis dos seus colegas da Alemanha ou da Confederação Helvética; que, afinal, até exercem as mesmas responsabilidades nos países mais ricos da Europa e do mundo.

(*) Desculpem se renego essa dívida. Na realidade eu (como aliás muita gente deste país) nunca vivi acima das minhas possibilidades (nem por sombras), nem nunca contraí dívidas que não pudesse pagar rapidamente e com o esforço do meu trabalho


Será normal e justo continuar a dissipar tanta 'massa' com certas instituições perfeitamente dispensáveis (ou quase), quando os Portugueses gemem sob o peso dos sacrifícios que lhes são impostos ?... As medidas tomadas pela troika e pelo governo PSP/CDS não serão demasiado pesadas para milhões de cidadãos deste país, que sobrevivem com pensões de miséria e com salários indignos ? -Aqui ficam as perguntas...

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