segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

BANDIDOS DE ONTEM E DE HOJE


«Mesrine» é um filme francês de Jean-François Richet. A personagem principal é encarnada pelo actor Vincent Cassel
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A frequência e o à vontade com que, no nosso país, se assaltam bancos, gasolineiras, ourivesarias e outros estabalecimentos comerciais deixa-me atónito. Porque adivinho que o essencial desses graves desacatos -quase sempre cometidos à mão armada- são obra de amadores, que ‘trabalham’ mais ou menos ocasionalmente, em função das suas pontuais necessidades de dinheiro. Não há por aqui, até prova do contrário, quadrilhas de malfeitores profissionais, tais como as que existem no estrangeiro (Estados Unidos da América, França, Inglaterra, por exemplo), que tenham escolhido o grande banditismo como forma de vida. Os nossos gatunos são espontâneos. Tão espontâneos como os improvisados toureiros que, de tempos a tempos, irrompem pelas arenas de Espanha em plena lide do matador de serviço. Os nossos assaltantes não deixam, no entanto, de ser tão perigosos como os profissionais. Ou, talvez, até mais, por não saberem guardar a calma e a serenidade necessárias durante um acto que se comete sob enorme tensão nervosa; e que, quando ocorre o mínimo incidente ou contrariedade, se põem a dar tiros contra tudo o que mexe. Embora não sendo perito no assunto, sei do que falo, pelo facto de já ter sido vítima de dois assaltos à mão armada, tendo um deles acabado de maneira sangrenta. Apesar dessa experiência, só tenho um conselho a dar às vítimas de futuros ataques dessa natureza : não resistam, entreguem os bens cobiçados aos ladrões e deixem que a polícia se encarregue do resto, inclusivamente da captura dos meliantes. Porque, apesar da sua aparente impotência, a nossa polícia -sem grande formação e sem meios suficientes à sua disposição- ainda consegue identificar e prender uma parte substancial desses bandidos. Pena é que as nossas leis sejam permissivas ao ponto de obrigar os juízes dos tribunais portugueses a aplicar penas risíveis para crimes tão graves. Essa gente merece prisões mais severas, quiçá campos de trabalhos forçados.

Vem tudo isto a propósito do filme «Mesrine» (em 2 partes : 'L'Instinct de Mort' e 'O Inimigo Público Nº 1'), que ontem vi em DVD, depois de ter seguido de perto, em França, onde vivi, a reprovável carreira de tão violenta personagem e de me lembrar do dia em que esse temível gangster foi crivado de balas pela polícia gaulesa.

Um dos mestres do supracitado Jacques Mesrine (combatente da guerra da Argélia, onde aprendeu as técnicas de matar) foi o anarquista Jules Bonnot, que, nos primeiros anos do século XX, assolou a França à frente de uma quadrilha sanguinária. Quadrilha que pela primeira vez na história do banditismo utilizou o automóvel para chegar ao local dos seus assaltos e para fugir à perseguição da polícia. A quadrilha de Bonnot foi aniquilada em 1912 pela acção conjugada das autoridades policiais e do exército.


Vaidoso, Jacques Mesrine dava entrevistas a jornais; porque gostava que a imprensa falasse dele e relatasse os seus 'feitos'. Empunhando uma Kalashnikov, o gangster 'posa' aqui para a capa da revista «Paris-Match», pouco tempo antes de sucumbir ao tiro cerrado da polícia


Jules Bonnot, anarquista e sanguinário salteador de bancos


«Le Petit Journal» ilustrava assim, desta sugestiva maneira, os assaltos violentos a bancos pela quadrilha de Bonnot


Viatura De Dion-Bouton, modelo de 1912. Esta marca era uma das preferidas do assaltante de bancos Jules Bonnot

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O nome de Jules Bonnot estava praticamente esquecido em França, quando, em 1969, o cançonetista Joe Dassin lançou uma melodia -«La Bande à Bonnot»- que trouxe o nome do assaltante à lembrança de todos. Aqui fica a letra dessa (curiosamente) bem-humorada canção :

LA BANDE À BONNOT

À la Société Générale
Une auto démarra et dans la terreur
La bande à Bonnot mit les voiles
Emportant la sacoche du garçon payeur
Dans la De Dion-Bouton qui cachait les voleurs
Octave comptait les gros billets et les valeurs
Avec Raymond-la-Science les bandits en auto
C’ était la bande à Bonnot

Les banquiers criaient ‘misérables !’
Quand s’éloignait le bruit du puissant moteur
Comment rattrapper les coupables
Qui fuyaient à toute allure à 35 à l’heure ?
Sur les routes de France, hirondelles et gendarmes
Étaient à leurs trousses, étaient nuit et jour en alarme
En casquette à visière, les bandits en auto
C’était la bande à Bonnot

Mais Bonnot rêvait des palaces
Et du ciel azur de Monte-Carlo
En fait il voulait vite se ranger des voitures

Mais um beau matin la police
Encercla la maison de Jules Bonnot
À Choisy, avec ses complices
Qui prenaient dans sa chambre un peu de repôs
Tout Paris arriva à pied, en tram et en train
Avec des fusils, des pistolets et des gourdins
Hurland des balcons, les bandits en auto
C’était la bande à Bonnot

Et menottes aux mains
Tragique destin
Alors pour la dernière course
On mit dans le fourgon la bande à Bonnot

(autores : Joe Dassin, J.M. Rivat e F. Thomas
arranjos musicais : Johnny Arthey)


O cançonetista Joe Dassin, falecido prematuramente em 1980, foi o inolvidável intérprete da canção que relatava a actividade e o fim da quadrilha de Jules Bonnot

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