terça-feira, 17 de junho de 2014

RECORDAÇÕES (10)

Na minha juventude nutri uma verdadeira paixão pela aviação -comercial, militar, desportiva- e, sempre que podia, acorria aos festivais aéreos e manifestações afins, que ocorressem em lugares ao alcance do meu modesto automóvel. Sobretudo, se esses fascinantes espectáculos se desenrolavam no norte de França, onde eu então residia, ou em Paris e na região envolvendo a capital de França. Recordo-me de um dia ter tomado conhecimento da participação num desses 'meetings' (realizado em Saint Valéry-en-Caux, uma cidadezinha costeira da Alta Normandia) de aviões caça da força aérea soviética. E como se tratava de aparelhos de um modelo que eu jamais vira voar (MiG 23 ou MiG 27 ?), lá fui com a família, que, sem interesse pelo assunto, terá ficado numa praia vizinha, enquanto eu escrutava o éter para ver passar os supersónicos em questão. Já não me recordo da data desse festival aéreo, embora tenha a certeza de não mentir, se afirmar que terá acontecido lá para meados da década de 70 do passado século. Depois de ter regalado a vista com a evolução desses ensurdecedores aparelhos e de outros (inclusivamente com os Fouga Magister da Patrulha de França), dirigi-me para os 'stands', onde, geralmente, são propostos ao público recordações do festival em curso e muitas coisas : livros, revistas, cassetes vídeo, maquetas de aviões, etc, etc. E qual não foi a minha surpresa, quando num desses abrigos provisórios fui topar com um velhinho chamado Maurice Bellonte; que haveria de falecer pouco tempo depois, em Janeiro de 1983. Para justificar a minha surpresa, direi que Bellonte (que ali estava a promover a venda de um dos livros da sua autoria e a assinar autógrafos) é um dos pendentes franceses do nosso ilustre aviador Gago Coutinho. Com efeito, Maurice Bellonte (navegador) formou com o piloto Dieudonné Costes a equipagem que -em Setembro de 1930- realizou o primeiro voo transatlântico sem escalas, no sentido Este-Oeste. Viagem, entre Paris e Nova Iorque, que os supracitados realizaram em 37 h 14, a bordo do Bréguet 19 'Point d'Interrogation'. Curioso é saber, que este pioneiro da aviação (um veterano da 1ª Guerra Mundial), foi o convidado de honra da Air France, quando esta companhia inaugurou, em 1977, os seus voos no Concorde entre a Cidade Luz e a Cidade dos Arranha-Céus. Viagem que esse supersónico comercial de concepção e construção franco-britânica passou a realizar em apenas 3 h 30 ! Quero dizer, para terminar esta narração, que, por excesso de timidez, não fui falar com Maurice Bellonte e que, por consequência, não lhe pedi que me autografasse o seu livro. Hoje, estou arrependidíssimo dessa atitude que então tomei e que me privou de dialogar com uma das grandes figuras da História da Aviação. Nas fotos anexadas podem ver-se : 1-Bellonte (à esquerda) e Costes. 2- O avião Bréguet 19 'Point d'Interrogation', que realizou a histórica viagem. Perfeitamente restaurado, este aparelho faz parte do espólio do Musée de l'Air, Le Bourget.

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