sábado, 22 de junho de 2013

RECORDAÇÕES (2)

/////// Trabalhei -cerca de 15 anos- na sede da sucursal francesa de uma importante instituição bancária lusa; que se situava no 9º bairro da 'Cidade-Luz', num dos ângulos das ruas Auber e Scribe, ali a dois passos da Ópera Garnier (famoso teatro lírico que é, embora a maioria das pessoas o ignore, um dos mais belos e interessantes monumentos da capital francesa). A agência central do 'meu' banco tinha entrada pública na junção das supracitadas artérias e dispunha de uma porta de serviço (geralmente utilizada pelos fornecedores) num beco chamado Impasse Sandrié, onde também estava sedeada a famosa casa editora Calman-Lévy. Um dia, tomada por uma grande excitação, uma colega minha veio chamar-me ao serviço onde eu trabalava, para que eu pudesse ir ver, segundo ela, «um grande escritor polaco, que aparecia muito na televisão». Por mera curiosidade, dirigi-me à tal porta dos fundos, que abri com alguma brusquidão, na esperança de ainda poder enxergar o tal homem de letras polaco, que, pelas explicações dadas pela minha camarada de trabalho eu ainda não tinha conseguido identificar. E, já com a porta escancarada, deparei-me com um grupo de pessoas diante da dita. Todas essas pessoas olharam na minha direcção, surpreendidas pela súbita aparição de um intruso, que as assustou. Entre elas não havia nenhum escritor conhecido. Nem oriundo da Polónia, nem da Transilvânnia, nem da Cochinchina, mas destacava-se, isso sim, a figura alta e inconfundível de Boris Yeltsin, que, nesse tempo, ainda não era presidente da Rússia. Soube ainda nesse dia, pelos jornais, que o homem que, mais tarde, tanto fez rir Bill Clinton, durante um acto público em que apareceu 'tocado' pela vodka, estava ali para oficializar a saída de um livro que escrevera e que seria lançado (com tradução em francês) pouco depois, pela já citada editora. Passou cerca de 1/4 de século sobre o sucedido (que terá ocorrido em 1990 ou na primeira metade do ano seguinte), mas ainda hoje me lembro da cara espantada do futuro dono do Kremlin, ao ver surgir, de onde ele  menos esperava, a minha pessoa e três ou quatro colegas do banco,  que me haviam acompanhado com o intuito de admirar o tal «escritor polaco», consagrado pela TV...

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