quarta-feira, 18 de outubro de 2017

-TURISMO OU INTROMISSÃO ?

O agora chamado turismo de aventura está na moda, tem cada vez mais adeptos. Há, pois, mais agências a especializar-se nesse ramo específico e, cada dia, mais gente a visitar territórios nunca antes devassados pela indústria do lazer e pela sua numerosa e endinheirada clientela. Ir, hoje, passar a lua-de-mel numa palhota da recôndita terra dos pigmeus, pernoitar num mosteiro de lamas budistas do Tibete ou do Nepal, passar um fim-de-semana num ignoto recanto da floresta amazónica ou pisar (por 10 minutos que seja) os gelos polares e avistar os ursos brancos do Árctico tornou-se chique. E relatar a aventura -aos amigos de Nova Iorque e de Paris, num apartamento climatizado e diante de umas taças de champanhe- deve dar (perdoai o vernáculo) uma 'pica do caraças'. Confesso que eu, às vezes, também me dão essas ganas de ir ver coisas e de viver sensações que são muito pouco próprias do comum dos mortais. Mas, depois, ajuízo que esses hábitos não serão os mais recomendados num mundo que rapidamente se desagrega; porque não foi preparado para esse contacto, do qual a Natureza tem sempre qualquer coisa a perder. E digo, a mim mesmo : «deixa lá os esquimós (agora é mais fino chamar-lhes inuits), as mulheres-girafa do Triângulo de Ouro e os zulus tranquilos, porque eles já foram suficientemente desnaturados pelo contacto com o homem branco; ao ponto de terem perdido grande parte da sua identidade e do seu modo de vida original. Deixa lá a Grande Barreira de Coral, a Antárctida e as florestas da Nova Guiné no seu sítio, porque, por nossa exclusiva culpa, as ditas estão a viver os derradeiros dias do seu esplendor». E é por causa desses auto-conselhos (e também, reconheço, por falta de dinheiro para investir no turismo exótico) que eu me vou conformando e me deixando ficar por cá, pela parvalheira.

Na foto anexada a este texto, pode ver-se um helicóptero e um quebra-gelos russos. Que foram colocados ao serviço de um grupo de 'aventureiros' do turismo de luxo.

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