quinta-feira, 19 de outubro de 2017

TESOUROS DA ARTE RENASCENTISTA


De provável origem flamenga (há quem o diga nascido em Bruxelas), Jean Clouet (1480-1541) -pintor e miniaturista- trabalhou, sobretudo, em França, nomeadamente na corte de Francisco I; de quem pintou vários retratos. Sendo aquele que aqui nos interessa o mais famoso de todos eles. Encomendado pelo próprio rei (e hoje conservado no Museu do Louvre), este retrato é considerado uma das obras-primas da arte renascentista. É de modestas dimensões (96 cm por 74 cm) e foi pintado sobre madeira. Mostra-nos uma figura majestática, vestida com a magnificência própria do soberano de uma grande nação da Europa. Dizem os entendidos, que essa aura de grande senhor deveria servir para restabelecer o prestígio de um rei que acumulara, no decorrer de anos precedentes, alguns históricos insucessos; pois assistiu, despeitado, à investidura imperial do seu rival Carlos V; que o havia derrotado na batalha de Pavia, aprisionado e humilhado, impondo-lhe um vexatório cativeiro. E servir também para, de regresso ao seu país, assentar a sua autoridade e reaver prestígio junto dos seus próprios súbditos. O retrato pintado por Clouet pode, pois e nessas condições, considerar-se uma imagem política. Francisco I é representado nesta obra (executada por volta de 1530) diante de um luxuoso pano -onde aparecem os seus reais atributos- ostentando vestes bordadas a ouro e o rico colar da nobilíssima Ordem de São Miguel, da qual o soberano era grão-mestre. Na cabeça usa uma touca enfeitada com uma pluma branca de avestruz. Diz-se que esta obra tem alguns pontos comuns com uma outra tela pintada, anos antes, por Clouet e representando Carlos VII. Mas a comparação só me parece respeitar a postura. Já que, nesse seu anterior trabalho, o pintor vestiu-lhe roupagens de uma grande sobriedade, que contrastam de maneira flagrante com esta representação de Francisco I. Que é de uma sumptuosidade incomparável.

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