quarta-feira, 4 de setembro de 2013

MAIS UMA QUADRA DE ALEIXO

////////////////// Quem trabalha e mata a fome
Não come o pão de ninguém;
Mas quem não trabalha e come,
Come sempre o pão de alguém !

Esta quadra parece ter sido produzida -pelo portentoso poeta popular- por volta de 1940. Tempos muito difíceis, em que uma das grandes preocupações dos Portugueses era assegurar a sobrevivência das famílias. Isso, numa época de restrições, com filas para o pão, para o azeite e para obter outros bens alimentares básicos. A devastadora Guerra de Espanha, aqui ao lado, e as suas dramáticas consequências (fome, miséria, repressão) e as ameaças de um conflito mundial, que pudesse alastrar ao território luso, eram também preocupação de todos... Em relação à ideia que tinha o repentista algarvio sobre o facto de alguém poder «comer sem trabalhar», estou certo de que, se ele fosse vivo nos dias de hoje, teria uma outra opinião. E que a sua poesia, mordaz, cáustica, se viraria -neste tempo de despedimentos maciços- não contra aqueles que não trabalham, mas, isso sim, contra aqueles que colocaram nessa anómala situação milhões de homens e de mulheres. Que, hoje, por todo o lado, reclamam o direito ao emprego e à dignidade que só o labor (seja ele de que natureza for) confere aos seres humanos.

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