domingo, 26 de junho de 2011

ANTUÉRPIA-HOBOKEN, NO ELÉCTRICO Nº 4


Quando eu era jovem trabalhei no estaleiro naval belga que havia construído, entre outros, os paquetes portugueses «Santa Maria» (o tal que foi capturado, em 1961, pelo capitão Henrique Galvão) e «Vera Cruz». Eu morava, então, provisoriamente, com a minha família, numa das ruas que partiam da margem direita do rio Escalda e ia desembocar na famosa Groenplaats (a Praça Verde), um dos corações da cidade. Era daí, defronte da estátua do pintor Rubens, que, todos os dias úteis, eu partia -bem cedinho- no eléctrico da linha 4 para Hoboken, a localidade dos arrabaldes onde se situava o estaleiro da firma John Cockerill Yards. Os eléctricos de Antuérpia tinham música ambiente, o que permitia tornar a viagem suportável, sobretudo nas frias manhãs de inverno. Recordo-me que, durante o ano em que eu lá trabalhei, uma das canções em voga (e de transmissão diária e obrigatória no eléctrico) era cantada pelo francês Michel Delpech e intitulava-se «Pour un Flirt». E ainda hoje fico pasmado quando recordo isso, já que os flamengos detestavam ouvir falar a língua de Vítor Hugo, chegando ao ponto extremo da má fé em que fingiam não perceber-me, assim como os meus colegas francófonos, quando nós nos expremíamos nesse idioma


O nº4 na sua paragem (terminus) de Hoboken. Lembro-me que havia por ali, perto dos portões de entrada do estaleiro, um café muito frequentado pela malta trabalhadora. Chamava-se (no início da década dos 70) 'Congo Boat', se a memória não me atraiçoa...

Pour un flirt avec toi
Je ferais n'importe quoi
Pour un flirt avec toi
Je serais prêt à tout
Pour un simple rendez-vous
Pour un flirt avec toi...

Porque será que os chatos dos velhos estão sempre a evocar os tempos da mocidade perdida ?

Sem comentários: