quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Este livrinho (que agora acabei de ler) é precioso. Porque condensa no breve espaço de 170 páginas a saga da CUF do Barreiro; e porque instrói os seus leitores sobre o proveito retirado por muitos milhares de trabalhadores e respectivas famílias, da implantação e permanência das fábricas de Alfredo da Silva naquela terra da margem sul do Tejo. Há, ainda hoje, muita gente que se entrega a exercícios intelectuais sobre o paternalismo do grande industrial e outras balelas. A verdade, porém, é que esse grande homem do século XX português, e a sua descendência, ofereceram aos barreirenses (de raíz ou de adopção) algo que nunca nenhum outro patrão lhes oferecera; nem antes, nem durante, nem depois deles. Abdicando de parte substancial dos lucros gerados pelas suas fábricas, os Silvas e os Mellos criaram uma aristocracia de profissionais, garantindo-lhes formação técnica, salários mais elevados e um sem número de regalias de carácter social (nos domínios da assistência médica, da educação, da cultura, do desporto, do lazer, etc) que deixaram saudades a quem pertenceu à chamada família cufista. E eu sei do que falo, porque também trabalhei para o grupo de empresas CUF; porque o meu pai também lá ganhou o pão durante muitos anos, assim como os meus sogros e outros familiares. Enfim, para parafrasear alguém que toda a gente conhece e que, no caso, se referia à democracia, quero dizer que aquela casa era a pior das empregadoras nacionais, à excepção de todas as outras. Quero terminar estas linhas -ao mesmo tempo que recomendo empenhadamente a leitura desta interessantíssima obra de Jorge Morais, editada pela Bizâncio- com o testemunho seguinte : o meu progenitor sofreu (em finais dos anos 50) um grave acidente nas fábricas do Barreiro, na chamada Zona Cobre. Por essa razão, esteve internado no Hospital da CUF cerca de um ano e ali foi submetido a diversas intervenções cirúrgicas pela elite portuguesa da especialidade. Apesar dos cuidados que lhe foram dispensados, os médicos encararam a hipótese de lhe amputar a perna direita. E contaram-lhe o historial dos esforços que fizeram no sentido de evitar essa intervenção com consequências tão dramáticas, tanto do ponto de vista físico, como psicológico. Acabaram por lhe dizer que a sua sorte estava ligada à eficiência de um medicamento novo, que haviam encomendado, exclusivamente para ele, num laboratório farmacêutico suiço. Para sorte do meu pai, que na altura era um jovem, esse tal remédio correspondeu às expectativas dos médicos e o meu progenitor acabou por conservar a sua perna até falecer, recentemente, com a idade de 83 anos. Sem comentários.
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