sexta-feira, 4 de setembro de 2009
ALERTA ! ALGUÉM ANDA A QUERER ROUBAR A NOSSA HERANÇA HISTÓRICA
Aqui há dias, num daqueles longos períodos de ócio que povoam a vida dos reformados, fui dar umas voltas pelo vastíssimo universo da Internet. Voltas sem rumo certo, por páginas nunca dantes navegadas e que, talvez por essa razão, acabam sempre por reservar a quem as lê algumas surpresas : pequenas, de monta, incosequentes ou susceptíveis de provocar a indignação de um santo.
Influenciado, provavelmente, pelo recente telefonema de uma amiga que vive e trabalha na 'Cidade Maravilhosa', cliquei no teclado do meu computador o nome da cidade do Rio de Janeiro. E logo deparei com o texto, em francês, de alguém que, maliciosamente (ou talvez não...), pretendeu reescrever a História do Brasil e reduzir a um papel secundário (calcule-se !) o desempenho dos Portugueses na descoberta e na construção dessa gigantesca nação da América do sul.
No texto em causa, publicado pela Wikipédia, depois de uma ridícula divagação sobre a pretensa descoberta do Novo Mundo pelos Fenícios há cerca de três milénios (nem mais, nem ontem !) o seu autor atribui o achamento da baía de Guanabara e o baptismo da cidade consagrada ao culto de São Sebastião a ...Américo Vespúcio. Quando, na realidade, esse aventureiro florentino só por ali passou, graças às boleias que lhe facultaram, nas suas naus, os capitães de el-rei Dom Manuel I; facto que, por consequência, não autorizava o 'turista' italiano a dar nomes às terras descobertas e reivindicadas para a coroa de Portugal pelos nossos intrépidos navegadores.
Na realidade, o formoso sítio geográfico em questão (um dos mais belos do mundo) foi visitado -pela primeira vez- no dia de Ano Novo de 1502 por uma expedição portuguesa e a escolha do seu bonito nome é, geralmente, atribuída ao navegador Gonçalo Coelho, chefe da referida expedição, que terá confundido a extensa baía que acabara de descobrir com a foz de um grande rio. Refira-se, no entanto, que esta designação de Rio de Janeiro só se popularizou a partir de 1519, depois da publicação do famoso atlas de Lopo Homem. Até então, os nossos marinheiros chamaram-lhe, por razões que eu confesso ignorar, baía dos Inocentes.
Refiro ainda, relativamente à cidade-berço dos cariocas (votada, repito, ao culto do mártir São Sebastião), que a sua fundação data do 1º de Março de 1565. Presidiu oficialmente ao seu nascimento Eustácio de Sá, parente do Governador-Geral do Brasil, que teve como testemunhas os padres jesuitas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. A fundação da cidade foi decidida na sequência da destruição de Fort Coligny, implantado por protestantes franceses -à revelia da autoridade lusa- na ilha de Villegagnon; isso, com a cumplicidade e o apoio dos índios Tamoios, hostis à nossa gente.
A propósito de Mem de Sá (tio do supracitado Eustácio e irmão do insigne poeta Sá de Miranda), que havia iniciado a luta contra a indesejada presença gaulesa, o texto francês da Wikipédia chama-lhe 'mercenário'. O que é, naturalmente, o cúmulo da estupidez (ou da má fé), quando se sabe que essa grande figura das Histórias de Portugal e do Brasil desempenhava, à época (e desempenhou até 1572, ano da sua morte), o cargo de Governador-Geral do Brasil.
Para terminar, quero dizer ainda que considero esse texto, propagado aos quatro ventos pela Internet, uma verdadeira afronta à verdade dos factos e um autêntico e descarado roubo do nosso património histórico. Por essas razões, aqui deixo a minha indignada denúncia e o meu alerta.
(MMS)
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1 comentário:
Sr. Manel os meus parabéns pelo novo blog, com mais um texto riquíssimo na cultura e na informação.
Cá estamos á espera de mais para comentar com todo o gosto, um abraço.
Dani
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