domingo, 11 de dezembro de 2016

18º REI, O ESQUECIDO D. ANTÓNIO

Esta galeria de retratos de monarcas lusos foi utilizada para promover a venda de uma monumental colecção de obras (de carácter biográfico) sobre os homens e as mulheres que cingiram a coroa de Portugal e governaram o nosso país. Isso, desde a primeira metade do século XII até 1910. Os livros em causa são todos eles da autoria de abalizados historiadores aos quais ninguém contesta, naturalmente, saber e competência. Deixem-me dizer, no entanto, que eu sempre achei que, nessa lista estabelecida por especialistas é certo, faltava um nome : o do esforçado D. António, Prior do Crato. Personagem apaixonante da nossa História do século XVI, que contestou, de armas na mão, a candidatura de Filipe II de Espanha à sucessão do cardeal-rei D. Henrique; mas que foi derrotado, na decisiva batalha de Alcântara, pela força esmagadora dos exércitos do duque de Alba. Eu penso (pobre de mim, que não tenho estudos superiores e que sou leigo nessas coisas da História-Pátria) que esse homem merecia a honra de figurar nesse painel de cabeças coroadas. Porque, ao que dizem outros insignes historiadores, o Prior do Crato foi aclamado rei em Santarém, em Lisboa, em Setúbal, em Coimbra e noutras cidades e vilas do reino. E porque se comportou como um monarca, organizando a resistência a Filipe II (que, em parte, acabou por triunfar à custa do dinheiro, dos títulos e de outros benesses com que comprou inúmeros fidalgos portugueses), reorganizando o exército, solicitando apoios no estrangeiro, cunhando moeda, etc. Mas, afinal, quem foi este D. António ? -Pois bem, era filho do infante D. Luís (sendo, portanto, neto de el-rei D. Manuel I) e de uma mulher do povo chamada Violante Gomes, alcunhada 'a Pelicana'. Dizia-se dela -que era bela e sedutora- que nunca chegara a casar com o príncipe e que era cristã nova e/ou judia praticante. Isso, provavelmente, com o intento de prejudicar o filho, quando este era já um dos indigitados sucessores do cardeal-rei. D. António foi discípulo, em Coimbra, de frei Bartolomeu dos Mártires, um dos espíritos mais brilhantes do seu tempo. Exerceu as funções de prior do Crato, um dos mais altos cargos da Ordem dos Hospitalários. Esteve, por várias vezes, exilado no estrangeiro, por não ser benquisto do cardeal D. Henrique. Foi governador da praça de Tânger. E esteve com D. Sebastião na desastrosa batalha de Alcácer Quibir, onde foi feito prisioneiro pelos mouros e aos quais foi resgatado. Disputou, com valentia e com honra, o governo de Portugal a um rival, seu primo, infinitamente mais influente e mais poderoso. Em 25 de Agosto de 1580, D. Antonio sofreu -em Alcântara, então nos arrabaldes de Lisboa- um revés inevitável(*), mas, ainda assim, encontrou maneira de escapar aos invasores e atingir os Açores, onde planeou resistir às forças afectas ao rei de Espanha. A batalha da Salga, na ilha Terceira, travada a 25 de Julho de 1581 (e na qual participaram , refira-se a título de curiosidade, Miguel de Cervantes e Lope de Vega), que o Prior do Crato venceu, representou, todavia, o canto do cisne de uma epopeia que terminou com a perda da nossa independência. Por 60 longos anos. D. Antonio acabaria por ser obrigado a refugiar-se em França, tendo falecido em Paris, no Verão de 1595. É por estas e por outras razões, que muita gente (entre a qual se encontram alguns historiadores) não hesita em designá-lo como um verdadeiro soberano, o 18º rei de Portugal.

(*)  Na batalha de Alcântara o exército de D. António era composto por uma força (mais ou menos organizada) de 9 800 homens, apoiados por 22 canhões. Já os espanhóis apresentaram-se no campo de batalha com uns 20 000 soldados, servidos por 122 peças de artilharia. Parte essencial dessas forças (com os tais 122 canhões) era constituída pelos famosos e temíveis 'tercios' e entrara com o duque de Alba pela fronteira do Caia. Outros soldados espanhóis haviam desembarcado dos navios de uma armada (equipada com 200 bocas de fogo) que fundeara na baía de Cascais. A desproporção de forças explica que a referida batalha tenha durado apenas meia hora e que terminasse com a esperada derrota das forças do Prior do Crato.


«António I rei de Portugal e dos Algarves pela graça de Deus»

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