sábado, 3 de outubro de 2015

COISAS DA NOSSA HISTÓRIA...

8º filho do rei D. João I e de sua legítima esposa D. Filipa de Lencastre, o príncipe D. Fernando teve um destino singular e um fim atroz. Nascido em Santarém a 29 de Setembro de 1402, viu-se envolvido pelo irmão -o futuramente chamado Infante de Sagres- na trágica tentativa de assalto a Tânger de 1437. Na qual muitos Portugueses, guiados por D. Henrique -um chefe militar de total incompetência- foram, não só repelidos pelos defensores daquela praça do norte de África, mas também miseravelmente aprisionados. Segundo alguns historiadores, a captura de gente importante da corte portuguesa encorajou os Mouros a exigir, em troca da sua libertação e sem outra alternativa, a devolução da praça de Ceuta. Parece, na opinião dos ditos historiadores, que o infante D. Henrique terá sido inicialmente o escolhido pelos muçulmanos, para ficar em África como refém, até que a corte portuguesa assumisse as suas responsabilidades e concretizasse a troca. Mas o manhoso D. Henrique teve artes para convencer os árabes para que fosse ele a negociar, em Lisboa, a transação e que, em seu lugar, ficasse cativo D. Fernando, o seu irmão mais novo. E, aquele que seria o grande promotor da expansão ultramarina lusa, saiu de Marrocos livre... e com a intenção, bem determinada, de jamais devolver Ceuta. Sacrificando, assim, aquele a que o povo acabaria por chamar o Infante Santo. Príncipe que sofreu nas aviltantes masmorras de Tânger e de Fez vexames e torturas sem nome. D. Fernando morreu nesta última cidade, no dia 5 de Junho de 1443, após 6 anos de cativeiro. Depois do seu passamento, os mouros mandaram embalsamar o seu martirizado corpo e, depois, suspendê-lo pelos pés, numa ameia, junto à porta de Bab-es-Sebah. Onde permaneceu em macabra exposição durante 4 dias. Na sequência desse acto infame, os despojos de D. Fernando, príncipe de Portugal, foram colocados num ataúde, que voltou ao mesmo sítio das muralhas da cidade que viu e se vangloriou com o seu cativeiro e com o seu sórdido fim. Entretanto, em Portugal, D. Henrique, o seu inflexível irmão, dedicava-se de corpo e alma às tarefas da expansão, da qual a praça de Ceuta se tornara no emblema. A reconhecida piedade (imbuída de quase fanática religiosidade) do promotor das Descobertas e os seus hábitos de homem solitário, talvez tenham escondido muitos remorsos pela maneira cínica e premeditada com a qual ele tratou o dossier do cativeiro do seu irmão mais jovem. Que foi, não hajam dúvidas, sacrificado por questões de natureza política e de prestígio nacional.



1- Estátua de D. Fernando -o Infante Santo- em Santarém, cidade onde nasceu no ano de 1402.
2- Porta de Bab-es-Sebah em Fez, Marrocos. Foi aqui que, há uns 570 anos, foi exposto -para divertimento e regozijo da populaça- o corpo martirizado do mais jovem dos membros da Ínclita Geração.

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