quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A ESSÊNCIA DOS NOSSOS POETAS


«RETRATO DO ARTISTA QUANDO COISA»

A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.

** Manoel de Barros (1916-2014), poeta brasileiro, natural de Cuiabá, Mato Grosso. Autor, entre outras, das obras «Poemas Concebidos sem Pecado», «Face Imóvel», «Compêndio para Uso dos Pássaros» e «O Guardador de Águas» **

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