quinta-feira, 21 de maio de 2015

SÓRDIDAS «CANTIGAS DE AMOR»

Numa aldeia serrana do norte de Portugal, dois músicos e cantadores ambulantes divertem 'o pagode', na esperança de lhe arrancar os tostões que possam dar continuidade à sua miserável existência. Esta tela do artista Carlos Reis data de 1929 e intitula-se «Cantigas de Amor». Constitui um claro testemunho da miséria que grassava, naquele tempo, por todo o nosso país, com pedintes  de pé descalço -tal como os solicitados- a cantarolar o 'faduncho da ceguinha'. A revolução do 28 de Maio (de 1926), que instituiu o Estado Novo, não alterou substancialmente as condições de vida dos Portugueses; que continuaram, sobretudo nas zonas rurais, a viver na indigência. Eu, que nasci em 1945, ainda me lembro muito bem do quão difíceis foram os tempos do salazarismo, sobretudo os anos 50. Tempos de pata descalça, de roupa remendada, de casas sem um mínimo de condições de habitabilidade, de refeições frugais, das quais se saía com a barriga 'a dar horas'. A propósito do autor desta tela, Carlos Reis (1863-1940), quero lembrar que foi um notável pintor naturalista, que se especializou na execução de cenas da vida quotidiana do nosso povo e, curiosamente e até 1910, na pintura de retratos dos membros da nobreza. Exemplo acabado, é um famoso retrato do rei D. Carlos, exposto no palácio ducal de Vila Viçosa. Carlos Reis, que era natural de Torres Novas  (cidade do Ribatejo onde funciona um museu com o seu nome), foi duas vezes galardoado com a Medalha de Honra da Sociedade Nacional de Belas Artes.

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