terça-feira, 10 de novembro de 2015

A ESSÊNCIA DOS NOSSOS POETAS


«NA NOITE DA MINHA MORTE»

Na noite da minha morte
Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo...
E os campos libertos enfim da sua mágoa
Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer.

Na noite da minha morte
Ninguém sentirá o encanto antigo
Que voltou e anda no ar como um perfume...
Há de haver velas pela casa
E xales negros e um silêncio que eu
Poderia entender.

Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar
Vejam subitamente...
Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando,
Uma voz serena de infância, tão clara e tão longínqua...
E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem
Talvez só tu a não esqueças.


** Cristóvam Pavia (1933-1968) poeta português. De seu nome verdadeiro Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho, era natural de Lisboa, embora com raízes familiares em Castelo de Vide. Vila do Alto Alentejo, onde viveu largos períodos da sua infância e da sua adolescência. Faleceu na capital, em consequência de um atropelamento ferroviário. Deixou-nos o livro de versos «35 Poemas» e muita poesia dispersa pelos jornais e revistas do seu tempo **

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