segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

NO ADEUS À PANTERA NEGRA

Vai hoje a enterrar no cemitério do Lumiar (onde, por sinal, já repousa o meu avô materno) aquele que foi uma lenda em vida : Eusébio da Silva Ferreira, um rapaz do bairro da Mafalala (na antiga cidade moçambicana de Lourenço Maques), que, nos campos de futebol, ganhou o epíteto (que é também um título) de 'Pantera Negra'. Eusébio -que envergou (entre outras) as prestigiosas camisolas do Benfica e da selecção das quinas- foi um dos grandes nomes do futebol mundial e também uma figura muito querida de todos, pelo facto de ter sido, ao longo da sua vida, um exemplo de humildade, de dedicação aos seus amigos, de humanismo. Qualidades que a todos ficam bem e que caiem como uma benção em figuras com a sua notoriedade e com o seu carisma. Vi jogar o Eusébio uma meia dúzia de vezes. Sempre fora do Estádio da Luz, onde a pantera tinha o seu antro e se sentia, muito legitimamente, como em sua casa. Vi-o jogar, sobretudo, no Barreiro -onde eu residi muitos anos- nos campos D. Manuel de Mello (onde então se exibiam os atletas alvi-rubros do F. C. Barreirense) e de Santa Bárbara (onde actuavam os futebolistas do Grupo Desportivo da CUF). Também me recordo de ter ido ver jogar, uma única vez, o Eusébio a Lisboa. Durante a final de uma Taça de Portugal (1963-1964), que foi disputada no Estádio do Jamor e que os encarnados venceram por 6-2 frente ao Porto. Tudo isto se passou, pois, na primeira metade da década de 60 (do século passado, obviamente), quando o nome de Eusébio ainda era só uma esperança de grandes e gloriosos dias para o Sport Lisboa e Benfica. A fama internacional daquele que viria a ser um dos mais destacados e admirados futebolistas do Mundo só se revelaria aquando da famosa final da Taça dos Clubes Campeões da Europa, disputada em Amesterdão contra o fabuloso Real Madrid, que eu vi -como aliás todos os Portugueses desse tempo- graças à transmissão televisiva da RTP. Num directo a preto e branco que todos guardamos na memória. Tinha eu então 18 anos de idade e muitas preocupações quanto ao meu próprio futuro e ao devir da nação portuguesa; mergulhada numa guerra colonial impopular, que nos merecia (por parte da opinião mundial e por parte das instâncias internacionais) viva repulsa. Entretanto, Eusébio prosseguia a sua carreira de goleador emérito, que atingiu o clímax naquele desafio disputado em Inglaterra, em 1966, contra os endiabrados norte-coreanos; que ao intervalo já nos humilhavam com um desconfortante 3-0. Valeu-nos a garra e a inspiração de Eusébio da Silva Ferreira que, na segunda parte do encontro, resolveu a partida a favor da formação lusa, marcando uma série de golos memoráveis. Que estão inscritos com letras de ouro nos anais da nossa história desportiva. Nem que fosse só por isso (passe o termo), o rei dos relvados daquele tempo merece a gratidão dos amantes da bola deste país. De todos eles, independentemente das tricas clubísticas que envenenam o nosso futebol. Com a morte de Eusébio, ocorrida ontem em Lisboa, perdeu-se, não haja a mínima dúvida, um dos mais inspirados goleadores de sempre e um homem que os Portugueses amavam; porque era um homem educado, um homem simples, um homem bom. Aqui fica a singela homenagem de um admirador do jogador e da pessoa.

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