domingo, 16 de outubro de 2016

CINÉ-NOSTALGIA (55)

«R. A. S.»... O título desta película, significa, no jargão militar francês, 'Rien à Signaler'. Não sei se este filme -realizado em 1973 por Yves Boisset- chegou a ser exibido comercialmente no nosso país. Mas tenho as minhas dúvidas, considerando que, aquando da sua estreia, o Portugal da ditadura se encontrava atolado até ao pescoço (embora em fase terminal) num conflito da mesma índole : uma guerra colonial. Guerra que Boisset mostra aqui (a da Argélia) e por vezes critica, através da boca e da atitude de algumas das personagens de «R. A. S.», que abominam a sua absurda e indesejável situação e que, por vezes, até evocam a possibilidade de desertarem. Esta fita inspira-se na própria experiência do seu realizador (que prestou serviço militar na Argélia em guerra) e no testemunho verbal e nas reportagens de guerra do jornalista Claude Veillot; que, no exercício da sua profissão, viveu o conflito no terreno, de 1954 até 1960. Todos os factos relatados pelo cineasta são, pois, inspirados por situações verídicas.  «R. A. S.» centra as suas atenções num grupo de soldados -enviados em 1956 para a Argélia- que, por causa da sua rebeldia e da sua irreverência, vão ser treinados num campo disciplinar, antes de irem integrar uma tropa de choque, especializada na caça aos 'fellaghas', aos combatentes da F. L. N.. No calor das emboscadas e dos combates, alguns deles vão-se integrando no sistema, outros persistem em manter uma atitude de revolta (agora surda) contra uma guerra impopular, impiedosa e antecipadamente perdida... Contrariamente ao esperado pelos produtores, que não acreditaram no seu êxito e estrearam o filme no mês de Agosto (quando não há praticamente ninguém em Paris e nas outras grandes cidades de França), «R. A. S.» foi um verdadeiro sucesso de bilheteira. E também recebeu boas críticas. Esta película é fruto de uma cooperação franco-ítalo-tunisina, tem fotografia a cores, 112 minutos de duração e foi distribuída pela UGC-CFDC. Os principais papéis do elenco foram confiados a Jacques Spiesser, a Jacques Weber, a Jean-François Balmer, a Philippe Leroy-Beaulieu, a Michel Peyrelon e a Jacques Villeret. Há cópias de «R. A. S.» editadas em DVD, mas são muito difíceis de encontrar. Vá lá saber-se porquê ?

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