O mundo encontrava-se ainda fortemente abalado pelo terrível 'crash' bolseiro de 1929, quando Charlie Chaplin -extremamente chocado pelo desemprego e pela miséria engendrados pela crise económica- decidiu realizar o seu sétimo filme de longa metragem. Nessa altura, esse génio do espectáculo cinematográfico não podia sequer imaginar que «Tempos Modernos», a fita em questão, se tornaria no seu mais controverso trabalho e que a reflexão social veiculada por essa sua obra acabaria por levá.lo, alguns anos mais tarde, diante da famigerada Comissão de Actividades Anti-Americanas, presidida pelo senador fascista Joseph McCarthy.
A rodagem de «Tempos Modernos» (que, lembramos, foi o último filme mudo de Chaplim e a derradeira fita em que apareceu a imortal figura de Charlot) teve início em Setembro de 1935 e durou quatro meses. A película foi estreada oficialmente a 5 de Fevereiro de 1936 no Rivoli Theatre de Nova Iorque, sendo -logo após essa sua primeira projecção- vilipendiada pela imprensa nacional, nomeadamente e com particular virulência pelos jornais e outras publicações do grupo Hearst, que acusaram o seu autor e principal intérprete de
ser 'bolchevique' e 'um inimigo declarado dos grandes empresários e da polícia' dos Estados Unidos.
Negativamente influenciado pelas múltiplas e arrasadoras críticas de que o filme foi alvo, o público norte-americano não reservou a «Tempos Modernos» o sucesso popular que este inolvidável filme merecia. Indubitavelmente ! Assim, as receitas de bilheteira foram, nos 'states', medíocres, em consequência do verdadeiro trabalho de sapa levado a cabo pelos jornais hostis a Chaplin.
Na Europa as coisas passaram-se de maneira diferente. Se na Alemanha hitleriana um interdito de exibição foi pura e simplesmente decretado e proclamado pelo sinistro Dr. Goebbels, ministro da propaganda do regime nazi, já os críticos de cinema de Inglaterra, de França e das outras nações democráticas do nosso continente acolheram entusiasticamente esta nova película do 'Eterno Vagabundo'. Película que não hesitaram qualificar de obra-prima e qualificar como um grande momento de cinema. Quanto ao público, no seu geral, esse riu e sorriu com os impagáveis apartes de Charlot, enquanto os cinéfilos mais esclarecidos viram em «Tempos Modernos» (filme hoje reconhecido, unânime e universalmente, como sendo uma das obras mais importantes da História da 7ª Arte) a denúncia clara, necessária e inadiável da desumanização do trabalho fabril.
Diga-se, a título de curiosidade e para finalizar estas modestas linhas, que Charlie Chaplin encarou o insucesso desta sua película, nos EUA, como um fracasso imerecido e as demolidoras e malévolas acusações da imprensa ianque como uma ofensa pessoal. Nessas circunstâncias, não é de admirar que, muito antes da sua dramática saída do país (nas condições que todos conhecemos e que já fazem, também elas, parte da atribulada História do Cinema, mas não só), o inexcedível artista britânico tenha manifestado o desejo de abandonar definitivamente território da América do norte. Foi, aliás, por essa época (1936) que o genial criador de Charlot empreendeu uma longa viagem pelo Extremo Oriente na companhia de Paulette Goddard, actriz com a qual Chaplin contraiu um matrimónio secreto, aquando de uma escala no porto chinês de Cantão
(M.M.S.).
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