quarta-feira, 27 de setembro de 2017

AS MINHAS CRÓNICAS (12)

Esta minha crónica, baptizada «QUANDO OS ZEPPELINS BOMBARDEAVAM A INGLATERRA...», foi publicada na revista «M. A.» (órgão oficial da F.A.P.), em Março/Abril de 1990. Reproduzi-mo-la aqui na íntegra.

Depois do primeiro bombardeamento estratégico realizado contra a Alemanha -que foi, lembramos, levado a cabo em 8 de Outubro de 1914 por duas equipagens do Royal Naval Air Service e que se saldou, concretamente, pela destruição do moderno Zeppelin LZ-25- o Estado-Maior do 'kaiser' não descansou enquanto não pôde provar ao seu congénere britânico que a Inglaterra, apesar da sua privilegiada situação geográfica, não estava ao abrigo de uma riposta similar e imediata.
Autorizado, em Janeiro de 1915, por Guilherme II a empregar os zeppelins contra o inimigo, o capitão-de-fragata Peter Strasser (comandante do corpo de dirigíveis da marinha imperial) arquitectou, logo para a noite de 13 de Janeiro, um plano de bombardeamento que deveria levar à destruição de equipamentos portuários implantados no curso inferior do Tamisa e à neutralização de instalações militares do adversário, situadas nas costas britânicas do mar do Norte.
A operação, desencadeada na data prevista, foi, porém, abandonada, antes dos aparelhos alemães terem atingido o território inimigo, devido às péssimas condições atmosféricas verificadas nessa noite, caracterizadas por ventos violentos e por chuvas torrenciais.
Assim, só alguns dias mais tarde, na manhã de 19, foi, de novo, possível aos LZ-24, LZ-27 e LZ-31 largar da sua base de Fuhlsbuttel com destino às ilhas britânicas. O comandante Strasser, que tomara lugar a bordo do LZ-31, e que deveria chefiar o histórico ataque, viu-se constrangido a abandonar a missão já nas proximidades do objectivo (quando se encontrava a apenas 145 km do Tamisa), devido a uma grave avaria no sistema propulsor do seu dirigível, que lhe paralizou um dos três motores de bordo. A partir de então, o êxito da operação iria depender unicamente da perícia e da coragem das tripulações dos restantes aparelhos.
O primeiro deles, o LZ-24, colocado às ordens do capitão-tenente Fritz, que tinha recebido instruções para bombardear o complexo-portuário-industrial do estuário do rio Humber, viu-se forçado por uma inclemente nortada a desviar do seu rumo, acabando por largar os seus projécteis (seis bombas explosivas e sete incendiárias) sobre Great Yarmounth, cujo céu acabou, aliás, por deixar precipitadamente, devido à virulenta acção da artilharia antiaérea inimiga. O LZ-24, depois de um cruzeiro que durou cerca de 23 horas, regressou,  sem ter sofrido danos, à sua base, na manhã de 20 de Janeiro.
O LZ-27, quanto a ele, também não conseguiu o sucesso esperado e teve de contentar-se com alvos de importância ainda mais modesta. Efectivamente, depois de ter lançado algumas bombas sobre as pequenas localidades de Snettisham e de Sandringham, este dirigível alemão finalizou a sua missão sobre a Inglaterra, largando o essencial da sua carga de guerra (constituída por sete bombas explosivas e por seis engenhos incendiários) sobre a aldeia de Kings Lynn; que, das alturas, a sua tripulação havia tomado por uma importante metrópole.
O raide germânico, que causou apenas dois mortos e alguns desgastes materiais, teve, no entanto, uma grande importância do ponto de vista psicológico, visto ter demonstrado, categoricamente, a vulnerabilidade das ilhas britânicas face ao ataque dos dirigíveis do inimigo; que não tardariam, aliás, em repetir as suas agressões nocturnas.
Com efeito, cinquenta outros ataques de zeppelins seriam programados e levados a cabo pelos tudescos contra a velha e orgulhosa Albion, tendo-se verificado o último deles em 1 de Agosto de 1918, quer dizer três meses antes da assinatura do armistício que poria cobro aos combates da Grande Guerra.
Esses bombardeamentos realizados pelos dirigíveis, custaram à Inglaterra 157 mortos, alguns milhares de feridos e prejuízos materiais importantíssimos.
Quanto aos dirigíveis construídos pela firma fundada pelo conde Zeppelin, ainda dariam que falar, uns anos mais tarde (na década de 30), quando, ostentando as cores e insígnias do sinistro regime hitleriano, se ilustraram num número incontável de viagens comerciais e de propaganda, que os conduziram às Américas e os levaram a efectuar várias e espectaculares voltas ao mundo.

(M.M.S.)

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