PARTINDO
Triste, por te deixar, de manhãzinha
Desci ao porto. E logo, asas ao vento,
Fomos singrando, sob um céu cinzento,
Como, num ar de chuva, uma andorinha.
Olhos na Ilha eu vi, amiga minha,
A pouco e pouco, num decrescimento,
Fugir o Lar, perder-se num momento
A montanha em que o nosso amor se aninha.
Nada pergunto; nem quero saber
Aonde vou: se voltarei sequer;
Quanto, em ventura ou lágrimas, me espera
Apenas sei, ó minha Primavera,
Que tu me ficas lagrimosa e triste.
E que sem ti a Luz já não existe.
Eugénio Tavares
** Eugénio Tavares (1890-1930), figura primordial da cultura, da política e da vida social de Cabo Verde, onde nasceu. A sua obra abrangeu -durante duas décadas- todas as áreas da cultura cabo-verdiana : poesia, prosa, retórica, música. Corsino Fortes, outra figura de proa da cultura crioula, chamou-lhe o «Camões de Cabo Verde **
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