A cidade marroquina hoje conhecida internacionalmente como Casablanca e a que o árabes chamam comummente Dhar-al-Beyda, foi, no tempo das conquistas lusas no norte de África, uma praça de somenos importância, então conhecida pelo nome de Anafé; que nunca suscitou, verdadeiramente, a cobiça dos Portugueses. Vivia da agricultura, de parcos negócios e pouco mais. Para além, convém dizer, de acoitar um ninho de piratas mouriscos, que actuavam sobretudo contra a navegação cristã nas águas do estreito. Apesar do seu menor interesse, os Portugueses lançaram, em 1469, um ataque à povoação, para assegurar (e apenas por isso, no dizer dos historiadores) a glória do duque D. Fernando, senhor de Beja e de Viseu. A esse homem -que era irmão de D. Afonso V- não lhe bastava ser um dos fidalgos mais ricos do Reino -com vastas terras em diferentes regiões do continente, mas também na Madeira, Açores e Cabo Verde- nem governador das ordens de Santiago e de Avis. Queria, igualmente, ser o protagonista de um alto feito militar, que o notabilizasse e inscrevesse o seu nome nas crónicas. Depois de ter obtido a autorização real, o infante saiu de Lisboa à cabeça de uma forte armada, «com muita e boa gente de guerra» e navegou para a costa africana. À chegada a Anafé desembarcou os seus guerreiros para investir uma praça vazia dos seus habitantes, que fugiram à vista de tão numerosas velas. Desiludido, D. Fernando mandou saquear e incendiar Anafé, antes de abandonar o lugar onde hoje se ergue a maior e mais importante metrópole do Reino Alauíta. O infante (pai do futuro Rei Venturoso) regressou a Portugal, de imediato e sem honra nem proveito; onde, acometido de doença grave, veio a falecer (em Setúbal) a 11 de Setembro de 1470. Não sem que, antes, tenha negociado o matrimónio de sua filha D. Leonor de Lencastre com o futuro rei D. João II.
Retrato do infante D. Fernando, 2º duque de Viseu e 1º duque de Beja, a quem a conquista de Anafé não trouxe mais fortuna, nem a vã glória ambicionada.
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