domingo, 3 de julho de 2016

CINE-NOSTALGIA (49)

Conhecida como a 'Trilogia de Pagnol', pelo facto de se inspirar na obra romanesca desse ilustre escritor, membro da Academia Francesa (de letras), esta série de três filmes foi realizada por diferentes cineastas, em anos diferentes da década de 30 : Alexandre Korda, em 1931, Marc Allégret, em 1932 e pelo próprio Marcel Pagnol, em 1936. Esta tragicomédia de costumes ocupa um lugar cimeiro (e inesquecível) no cinema francês de sempre. E, tal como aconteceu em Portugal, com certas fitas com António Silva e/ou com Vasco, esta trilogia é vista e recordada (com muito carinho) até por gente que  nasceu muitos anos após a morte dos seus diferentes protagonistas. Enfim, estas películas são uma verdadeira instituição, que todos os franceses viram e tornaram a ver. «MARIUS», «FANNY» e «CÉSAR» contam-nos a história de gentes e de uma cidade que já não existem. A história de vida -ora divertida, ora dramática- de várias famílias marselhesas, cujo centro do universo era o Velho Porto da cidade; onde nasciam, trabalhavam, amavam e faziam filhos, afrontavam alegrias e tristezas e morriam. Tais como César, o truculento dono do «Bar de la Marine» e o seu filho Marius, um jovem devorado pela paixão do oceano e por viagens longínquas; tais como Honorine, a peixeira do lugar e sua filha, Fanny, que ama ardentemente Marius, mas que, na sua ausência, acaba por desposar mestre Panisse, um rico comerciante local; tais como Escartefique, o capitão do 'vaporetto', como o senhor Brun, um 'estrangeiro' de Lyon, que são, também, os 'heróis' de extraordinárias e agitadas partidas de cartas, entremeadas de conversas e discussões inesquecíveis e que se tornaram antológicas. Enfim, esta trilogia fílmica, servida por comediantes fabulosos, tais como Raimu (que Orson Welles não hesitou qualificar como «o melhor actor de todos os tempos»), como Pierre Fresnay, como Orane Demazis, como Fernand Charpin, como Paul Dulac, como Alida Rouffe, como Robert Vattier e tantos outros, acolheu, igualmente, outros artistas de grande prestígio, como, por exemplo, os compositores Francis Gromon e Vincent Scotto, e grandes directores de imagem, como Zoltan Korda, Toporkoff ou Willy. «MARIUS»/«FANNY»/«CÉSAR» (que eu não sei se alguma vez foram exibidos comercialmente no nosso país) situam-se, realmente, nos píncaros do melhor cinema gaulês, nem que seja pelo facto de já viverem (há muito) no coração de toda uma nação. Tenho cópias destas fitas, gravadas na TV em cassete VHS e, posteriormente, transferidas para suporte DVD. Não têm, naturalmente, a qualidade desejada. E eu gostaria muito de substituí-las por videogramas de editor. Só que estes (franceses) têm o descaramento de pedir mais de 100 euros por uma obra que faz parte do património cinematográfico do país e que, pela lógica, deveria ser colocada no mercado a preços verdadeiramente acessíveis a todos. Talvez um dia isso aconteça...

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