sábado, 9 de julho de 2016
A ESSÊNCIA DOS NOSSOS POETAS
«A ILHA»
A ilha era deserta e o mar com medo
de tanta solidão já te sonhava :
ia em vento chamar-te para longe
e longamente em espuma te esperava.
À cinza dos rochedos atirava
na grande madrugada adormecida,
já saudosos de ti, os braços de água,
sem ter acontecido a tua vida.
Sim, meu amor, antes de Zarco vir
provar o sumo e o travo à solidão,
no litoral de pedra pressentida
o mar imaginava esta canção.
E as lúcidas gaivotas desse tempo
talhavam como um voo o teu amor :
o início de lava e sal que deixa
(talvez) neste poema algum esplendor.
** Carlos de Oliveira (1921-1981), prosador e poeta português. Foi colaborador das prestigiosas revistas «Seara Nova» e «Vértice». Deixou-nos uma vintena de obras publicadas, de entre as quais se destacam dez livros de poesia e os romances «Casa da Duna» e «Uma Abelha na Chuva» **
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